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É difícil para os colchoeiros dormirem com um barulho desses

Por Edson Rodrigues - 11 de Setembro 2021

 

Sabem a Lei de Murphy, a que diz que “Nada está tão ruim que não possa piorar”? É isso que acontece atualmente para as indústrias de colchão no Brasil. Quer alguns exemplos?

O preço do minério de ferro está despencando no mundo. Em maio a tonelada no mercado chinês estava em US$ 233 e em agosto havia caído para US$ 130. Analistas do UBS preveem que no começo de 2022 chegue abaixo de US$ 100. Mas o preço do fio máquina, que trefilado é usado na confecção de molejos para colchões, não recuou um centavo nas siderúrgicos Gerdau e Belgo, as únicas fornecedoras no Brasil. Vários fabricantes estão utilizando arame importado, principalmente da Turquia, Espanha e Portugal. Os preços não sobem desde julho mas não sabemos se vão estabilizar. Questionadas pela Móveis de Valor, até o fechamento desta matéria Gerdau e Belgo não haviam respondido. Talvez por falta de argumento que justifique manter os preços com todas as altas acumuladas no auge da pandemia.

Outro exemplo: a cotação do preço de TDI na China subiu 5,05% apenas na semana de 14 a 20 de agosto. Este movimento se deveu a notícia do fechamento de uma fábrica em Xangai e outra no Norte da China. Para piorar, a crise portuária encarece o produto. “As pressões sobre as cadeias de suprimentos globais não diminuíram e não esperamos que isso aconteça em breve”, disse Bob Biesterfeld, CEO da CH Robinson, uma das maiores empresas de logística do mundo. O último obstáculo ocorreu na China, onde um terminal no porto de Ningbo-Zhoushan, ao sul de Xangai, ficou fechado de 11 a 25 de agosto, depois que um funcionário testou positivo para Covid-19.

O preço dos fretes disparou mais de 300%, em média, a partir do começo da pandemia. Para se ter ideia, as taxas de embarques de contêineres da China para os Estados Unidos atingiram máximas acima dos US$ 20 mil por unidade de 40 pés.

Se tudo isso parece um furacão, pode não ser apenas aparência. No momento o furacão Ida ronda a Louisiana e o Golfo do México, onde se concentram importantes indústrias químicas produtoras de TDI e Poliol. Mais um agravante que pode justificar novas altas nos preços destes componentes de produção de espumas.

E o governo também não ajuda. Prevista para durar até 31 de dezembro, foi retirada da lista de produtos com redução temporária para zero da alíquota de importação, o TNT usado no envelopamento de molas, entre outras utilidades na indústria colchoeira. Nenhuma justificativa da Camex e a Abicol reagiu junto ao Ministério da Economia tentando reverter a situação.

Por falar em tecido não tecido, há rumores ainda não confirmados de que pode haver escassez de fios para produzir tecidos para colchões. E, diga-se, hoje tecido é um dos principais componentes não apenas para revestir, mas também para conquistar clientes, em razão da ampla tecnologia utilizada em sua confecção.

Agora, fecha-se tudo isso com um DOWNGRADE que está ganhando força no mercado. Seria cômico se não fosse trágico. Uma redução dos preços de colchões nas fábricas apenas seria possível com um corte radical na qualidade arduamente conquistada graças a participação de bons fornecedores e fabricantes, engajados no esforço para proporcionar aos brasileiros mais qualidade de vida, através de colchões que proporcionem uma ótima condição de descanso. Seria retroceder ao tempo em que o mercado colchoeiro era uma terra em que tudo era permitido, até revestir colchão usado e vender como novo. Mas, se depender de nós, esse tempo jamais voltará.

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