Amazon é acusada de plágio e manipulação de dados de anúncios
A Amazon plagiou produtos comercializados por lojistas do marketplace e manipulou a busca do site, para que seus próprios anúncios fossem favorecidos, segundo uma investigação feita pela agência de notícias Reuters. Essa campanha sistemática aconteceu na Índia, para impulsionar seu alcance no enorme mercado do país.
A reportagem teve acesso a centenas de documentos internos que indicam as práticas — que em diversas ocasiões foram negadas pela gigante do comércio online. Pelo menos dois executivos do alto escalão estariam envolvidos na estratégia, que secretamente prejudicava os vendedores de empresas de fora da Amazon.
De acordo com a Reuters, funcionava assim: uma equipe identificava os produtos mais bem-sucedidos de cada categoria, depois a Amazon fabricava réplicas deles, que então passavam a aparecer nas primeiras posições da busca na plataforma. Ou seja, mercadorias que já haviam sido testadas e aprovadas pelos consumidores do país, eram exibidas às custas dos vendedores originais.
Em 2016, época em que a empresa lançou a marca própria Solimo, que reúne produtos de uso cotidiano, inicialmente na Índia, um relatório diz: "usar informações da Amazon.in (url da empresa na Índia) para desenvolver produtos e, em seguida, aproveitar a plataforma Amazon.in para comercializar esses produtos para nossos clientes”.
O plano foi tão bem-sucedido que a Solimo — uma referência ao rio Solimões — passou a ser vendida internacionalmente, inclusive no site norte-americano (amazon.com). De acordo com as informações conseguidas pela Reuters, a empresa até usou os fabricantes dos produtos originais, para que a qualidade de suas réplicas fosse igual ou superior.
"É difícil desenvolver essa expertise em tantos produtos e, portanto, para garantir que somos capazes de corresponder totalmente à qualidade ao nosso produto de referência, decidimos fazer parceria apenas com os fabricantes dele", diz um documento chamado "India Private Brands Program" (Programa de Marcas Privadas na Índia).
Além disso, os produtos eram vendidos com preço 10% a 15% menor que o original, devido ao enorme volume. Entre as vítimas das polêmicas táticas anticoncorrenciais, está a marca indiana de roupas John Miller.
A Amazon teria copiado o exato modelo de suas camisas para renovar uma linha própria chamada Xessentia, que estava sofrendo com muitas devoluções. Um documento interno orienta a "seguir as medidas" delas, desde a circunferência do pescoço, largura dos ombros, até o comprimento das mangas.
A manipulação da pesquisa também era utilizada para favorecer novos produtos — que ainda não tinham compras e avaliações suficientes para aparecer no topo dos resultados —, como os da linha AmazonBasics, de itens de informática e acessórios de tecnologia.
Guerrilha bilionária Vale lembrar que a Índia é um mercado de 1,3 bilhões de pessoas, com uma classe média emergente. Porém, empresas estrangeiras costumam ser malvistas no país, principalmente as dos Estados Unidos, inclusive com rígidas leis regulatórias. A Amazon chegou lá em 2013, mas logo registrou milhões de dólares de prejuízos — o estopim para uma investida mais agressiva e predatória. Em diversos outros locais, a empresa sofre investigações por possíveis práticas ilegais, como nos EUA e em países da Europa.
Empresas concorrentes e funcionários que trabalharam neste tipo de esquema por diversas vezes a acusaram de copiar designs, de explorar informações não públicas dos vendedores para lançar produtos rivais, e de manipular os resultados da busca para aumentar a venda de seus próprios anúncios, segundo a reportagem.
Em depoimento ao Congresso norte-americano, no ano passado, o fundador da Amazon, Jeff Bezos, negou o uso de dados internos para auto favorecimento. Em 2019, o conselheiro geral Nate Sutton testemunhou que "os algoritmos são otimizados para prever o que os consumidores querem comprar, independentemente do vendedor”.
Mas os documentos internos aos quais a Reuters teve acesso mostram, pela primeira vez, que esta era uma estratégia clandestina e sistemática da Amazon — ao menos na Índia. Pelo menos dois executivos do alto escalão global da empresa revisaram o programa: os vice-presidentes sênior Diego Piacentini e Russell Grandinetti.
Em resposta à reportagem, a Amazon disse em nota: "Como a Reuters não compartilhou os documentos ou sua proveniência conosco, não podemos confirmar a veracidade ou não das informações e reivindicações declaradas. Acreditamos que essas alegações são factualmente incorretas e infundadas".
"Exibimos os resultados da busca com base na relevância para a pesquisa do cliente, independentemente se tais produtos são de marcas privadas", completou. "Proibimos estritamente o uso ou compartilhamento de dados não públicos específicos dos vendedores para o benefício de qualquer um."
(Com informações do Uol)
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