IMG-LOGO

Amazon recompensa lojista em dinheiro. É a competição no varejo

Por Natalia Concentino - 07 de Outubro 2021

A Amazon anunciou na manhã de quarta-feira (06) novas ações para tentar acelerar o seu “marketplace” (shopping virtual) no país. Uma das medidas eleva o tom da disputa no setor: como já faz nos EUA, a empresa passará a dar dinheiro como prêmio aos lojistas que, por exemplo, usarem mais os seus serviços, inclusive a logística. Esse movimento acontece num período de competição mais acirrada e vendas em desaceleração no comércio on-line no país desde julho, apurou o Valor.

Na terça-feira (04), a Shopee anunciou que irá oferecer R$ 3 milhões em cupons e vouchers de frete grátis sem mínimo de compra, além de itens com até 50% de desconto no próximo domingo, como parte de uma campanha. A Shopee é um dos principais marketplaces asiáticos, e controlada pelo Sea Group. Outros marketplaces brasileiros vem reduzindo taxas cobradas dos vendedores.

No caso da Amazon, a partir desta quarta-feira, há três programas que os lojistas poderão aderir: o de recompensas em dinheiro ao vendedor, o serviço de entregas (“delivery by Amazon”) e a venda de mercadorias de lojistas brasileiros na Amazon internacional. A ideia é que, ao longo do quarto trimestre, essas opções estejam funcionando totalmente, após uma fase inicial de cadastros.

Uma quarta iniciativa está aberta para adesão desde a metade de setembro. Trata-se do pacote de serviços completos (“fulfillment by Amazon”), disponível aos optantes do Simples Nacional e com inscrição estadual em São Paulo. Todas as quatro iniciativas estão sendo apresentadas ao mercado hoje, em evento da empresa com lojistas, o “Amazon Conecta”.

“Até então, a possibilidade de vender no site global e o programa fulfillment eram opções liberadas apenas a lojistas convidados. Agora isso estará aberto a todos no site”, disse Ricardo Garrido, diretor da loja de vendedores parceiros da Amazon.

leia: AMAZON SE PREPARA PARA BLACK FRIDAY COM ABERTURA DE 2 CDS

Dinheiro na mão

Entre esses programas, há dois que ainda não existiam no Brasil, o “delivery by Amazon” e o plano de compensação atrelado a metas definidas pela companhia. Neste formato de recompensa, se o vendedor decidir, por exemplo, utilizar o pacote completo de serviços da empresa — que inclui armazenagem de produtos, retirada e envio de mercadorias ao cliente — ele recebe R$ 300 em sua conta na Amazon. Ao adicionar um produto de alta venda na loja on-line, o benefício é de R$ 6 por cadastro. A soma ficará num saldo de recompensas e pode ser resgatada pelo vendedor a qualquer momento.

Já em relação ao programa de “delivery”, a empresa vai passar a coletar nas varejistas as mercadorias vendidas no site e no “app” e fará os trâmites da entrega. A companhia ainda dará frete grátis a todos os clientes, em compras acima de R$ 79, para operação por meio do “delivery by Amazon”. O rival Mercado Livre oferece hoje frete gratuito para compras a partir de R$ 79, caso a entrega ocorra pelo Mercado Envios.

“O lojista emitirá a nossa etiqueta de envio, cola no pacote e no dia seguinte a transportadora parceira coleta os produtos”, diz ele. Mercado Livre, Magazine Luiza e Americanas já fazem esse serviço de retirada de mercadorias nas varejistas, e todos cobram pelo serviço dentro da taxa de comissão paga pelo vendedor.

Perguntado sobre a redução no prazo de entrega com essa mudança, o executivo não dá detalhes. Diz que a Amazon faz entregas em até dois dias apenas para clientes de seu programa Prime, em 700 cidades, algo que a empresa já vem noticiando há alguns meses. No país, mais de metade da entrega dos concorrentes Mercado Livre e Magazine Luiza ocorre em até um dia. A Amazon informou em agosto que faz entrega em até 24 horas para clientes Prime de 50 cidades.

Para retirar produtos diariamente no vendedor, como está anunciando hoje, a Amazon precisa de uma frota ampla e agilidade nos processos — o Mercado Livre, por exemplo, tem cerca de 10 mil vans e 600 carretas para fazer essa retirada e envio ao cliente em um dia. Questionada a respeito, a Amazon não informa a sua frota (nem o número de lojistas no seu marketplace), mas afirma que, considerando o lançamento desses programas pouco antes da Black Friday, quando a demanda sobe, é possível que venha a ampliar esse prazo de um dia para retirada.

“Há um acordo com o ‘seller’ e dependendo isso pode ser revisto pontualmente”, diz Garrido.

leia: AMAZON INVESTE EM FRETE GRÁTIS PARA COMPRAS INTERNACIONAIS

Mais subsídios

No site da empresa no Brasil, a Amazon já vem dando outros subsídios aos lojistas brasileiros. Como opera globalmente com altos volumes e tem bilhões em caixa disponível lá fora, muitas vezes a empresa banca certas despesas nos mercados onde precisa crescer para ir ganhando mercado. É uma forma de ela aumentar sua escala, mesmo que queime recursos por um tempo em certos países, dizem analistas.

No Brasil, as tarifas de armazenamento de produtos nas centrais da empresa e de remoção de estoques (quando o vendedor pega de volta os seus produtos nas centrais da Amazon) estão zeradas até dezembro, diz ela em seu site. E a tarifa de coleta de mercadorias também estará gratuita até março de 2022.

Além disso, a Amazon informa que dá um subsídio total de R$ 200 para que o lojista aceite fazer as configurações iniciais, junto a uma equipe parceira, do seu programa de fulfillment, que reúne o pacote completo de serviços.

A principal cobrança dos marketplaces é a taxa de comissão sobre a venda. A Amazon cobra de 8% a 16%, e uma tarifa de logística baseada no peso do item, segundo tabelas publicadas em seu site.

Em relação à venda de produtos de lojistas brasileiros no site da Amazon nos EUA, desde o início do ano ela só era possível por meio de convite ao lojista, até a abertura a todos os lojistas agora. Haverá o pagamento de uma taxa internacional à Amazon global para a venda, afirma a empresa, sem detalhar a taxa, e isso só será possível se o vendedor usar os serviços de logística da empresa.

Esse movimento da Amazon ocorre num período de vendas no varejo eletroeletrônico em maior desaceleração.

O Valor apurou com dois marketplaces nacionais que setembro foi mais fraco do que agosto, e que os pedidos para a Black Friday devem ser mais conservadores em relação a 2020, em parte, pelo cenário de renda em queda e com a falta de certos produtos, pela crise global de insumos.

“A venda está ruim, e as ‘promoções’ dos marketplaces é para tentar convencer o lojista a entrar na plataforma e a pôr mais produtos à venda na sua plataforma. Quem pode mais, banca mais”, disse um executivo do setor.

A Amazon diz que espera uma Black Friday “normal”, afirmou o diretor, sem dar números. “O nosso desafio para a data é avançar com o ‘delivery by Amazon’ e o fulfillment”.

(Com informações Valor PRO/Valor Econômico)

Comentários