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Americanas avalia queda de lojas físicas e balanço no fim do mês

Revisado Natalia Concentino - 02 de Outubro 2023

Protagonista da principal crise corporativa do varejo brasileiro em 2023, a Americanas dimensionou, neste domingo (1º), o revés de sua operação física desde a recuperação judicial, em 19 de janeiro, após revelar uma fraude da ordem de R$ 20 bilhões em sua contabilidade.

 

A varejista informou ter fechado 88 lojas entre janeiro e agosto, encerrando esse período com 1.794 unidades. O movimento continuou em setembro, com a descontinuidade de mais nove pontos de venda, até o último dia 17. No total foram 97 unidades fechadas desde o começo do ano.

 

O encolhimento de sua operação física consta do relatório mensal sobre a recuperação judicial, enviado neste domingo à CVM (Comissão de Valores Mobiliários), que apontou uma redução de 6,3 milhões de clientes ativos nos oito primeiros meses do ano.

 

Em agosto, quando encerrou 25 pontos de venda, o número de clientes totalizava 42,8 milhões, abaixo dos 49,1 milhões no final de dezembro. Em janeiro, a Americanas tinha 48,2 milhões de clientes e 1.880 lojas.

 

A companhia não revela as marcas das unidades que foram fechadas nem o total de cada um. No dia 23 de agosto, Bloomberg Línea pediu comentário sobre o fim das operações da Imaginarium, loja de itens de decoração geek e retrô que pertence ao grupo, em três shoppings centers da cidade de São Paulo (Jardim Pamplona, SP Market e Morumbi Town). A reportagem constatou o encerramento das operações das lojas nos locais.

 

Um mês depois, na última sexta-feira (29), a companhia ainda não confirmava oficialmente a informação. O relatório semanal apontava que, entre os dias 21 e 27 de agosto, o grupo descontinuou cinco pontos de venda, sem informar os nomes das marcas.

 

No térreo do Jardim Pamplona Shopping, por exemplo, a loja da Imaginarium baixou as portas na noite do dia 22. A unidade ficava ao lado da Puket, loja de pijamas para crianças, outra marca que a Americanas colocou à venda após a recuperação judicial junto com a Imaginarium para levantar recursos e ajudar a pagar os credores.

 

Ativos à venda

 

Criada em 1991, a Imaginarium chegou a contar com 220 lojas exclusivas, mais de 600 pontos de lojas licenciadas, e-commerce, marketplace, além de um escritório internacional.

 

Em 2021, a marca chegou a fazer uma parceria com a Warner Bros. Consumer Products, que se transformou em uma colaboração para comercializar produtos exclusivos para os fãs de Harry Potter.

 

 

A Imaginarium faz parte do Grupo Uni.co, plataforma de franquias de varejo especializado, que inclui ainda a Puket, Casa MinD e a Love Brands e passou a integrar a Americanas em 2021.

 

Em março, quando divulgou o primeiro plano de reestruturação, a Americanas informou que poderia vender ativos para levantar dinheiro e pagar parte da dívida com credores. Em maio, detalhou ter contratado o Citibank para buscar potenciais interessados por ativos como o Grupo Uni.co e a Natural da Terra, rede de hortifruti.

 

Uma fonte que acompanha o processo disse à Bloomberg Línea que o momento desafiador do varejo brasileiro, com margens comprimidas pelo consumo inibido pela inflação e juros elevados, desencoraja outros players de fazer ofertas atraentes pelos ativos, que não apresentam diferencial não replicável que justifique a apresentação de propostas competitivas.

 

Em outras palavras, ninguém estaria disposto a pagar caro por marcas como a Imaginarium e Puket que atuam em segmentos já saturados por pequenos lojistas.

 

Desligamentos de funcionários

 

A redução de estrutura física resultou em cortes da folha de pagamento. Até o dia 17 de setembro, a Americanas registrava 34.369 funcionários em regime CLT (carteira de trabalho assinada). Isso representa um corte de 20,3% na força de trabalho desde janeiro, quando afirmava ter 43.123 empregados.

 

O relatório divulgado neste domingo mostra que muitos funcionários pediram para sair da empresa, que ainda busca fechar um acordo com seus credores. Na semana entre 11 e 17 de setembro, 169 colaboradores pediram demissão, uma média acima da semana anterior (140).

 

leia: Se o varejo passa por um aperto, vemos oportunidade, diz Mappin

 

Divulgação do balanço da Americanas

 

A varejista tem adiado a divulgação dos balanços trimestrais, enquanto não chega a um entendimento com os principais bancos do país. Só após esse passo, a companhia poderá convocar uma assembleia de credores para votar seu plano de recuperação e começar a virar página da crise.

 

Como houve fraude na contabilidade e o reconhecimento de dívida não paga aos fornecedores e instituições financeiras, as linhas dos balanços anteriores têm de ser corrigidas.

 

O cronograma informado no novo relatório aponta o próximo dia 30 de outubro como a data para divulgação do resultado financeiro de 2022. Já os balanços de três trimestres deste ano (primeiro, segundo e terceiro) estão marcados para serem divulgados no próximo dia 29 de dezembro.

 

 

Na última sexta-feira (29), as ações da companhia fecharam em forte alta de 21,79% na B3, com investidores animados com a trégua jurídica temporária entre o grupo e o Bradesco (BBDC4) sobre discussão de cobrança de fianças no processo de recuperação judicial, além do fim dos trabalhos da CPI (comissão parlamentar de inquérito) criada no Congresso para investigar o caso, mas que terminaram sem apontar possíveis culpados.

 

No início do ano, os principais CEOs do mercado bancário esperavam o fechamento de um acordo sobre os créditos a receber para o final do primeiro semestre, mas outros credores não financeiros e debenturistas mantiveram seus questionamentos, e os executivos dos bancos evitaram fornecer novas previsões de data para o fim da novela.

 

A valorização de dois dígitos no preço do papel representou um movimento de recuperação parcial, após uma sequência de expressivas quedas devido à maior aversão ao risco dos investidores ao setor de varejo e ao impasse jurídico entre a varejista e seus credores. No ano, AMER3 acumula baixa de 90%.

 

Fonte: bloomberglinea.com.br

 

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