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Argentina acena com solução para barreiras

Por Edson Rodrigues - 03 de Fevereiro 2012
As autoridades argentinas prometeram na última quinta-feira, 2 de fevereiro, à Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) que haverá “soluções razoáveis” para as medidas recentes, que aumentaram as dificuldades de importações do Brasil para a Argentina. O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, que se reuniu com a equipe econômica do país vizinho, nesta quinta-feira, disse que o mecanismo é recente e não provocou ainda impacto. Antes, o dirigente ouviu de empresários com operações no país vizinho, preocupado com aplicação das novas regras, que há incerteza sobre as medidas.

O presidente da Fiesp teve encontro primeiro com empresários brasileiros que atuam na Argentina. “Há um clima de incerteza”, definiu o presidente da Câmara de Comércio Argentino Brasileira, Jorge Rodriguez Aparício. “Várias empresas que estão importando bens de capital, para produzir aqui, estão com dificuldades. Mas é preciso aguardar alguns dias para ver como funcionarão as novas medidas”, completou Aparício. “Disseram-nos (governo) que as medidas não têm o objetivo de prejudicar o comércio com o Brasil. Então, temos de aguardar com equilíbrio, paciência e serenidade”, contemporizou o dirigente.

“Pediram para ter um pouco de paciência, sem precipitações e não sofrer por antecipação”, disse o paulista, após reunião de duas horas com os ministros de Economia, Hernán Lorenzino, a da Indústria, Débora Giorgi, e os secretários de Comércio Interior e Exterior, respectivamente, Guillermo Moreno e Beatriz Paglieri. Para Skaf, o Brasil merece uma atenção especial por parte do governo de Cristina Kirchner. “Acho que o diálogo com o Brasil, como sócio do Mercosul, tem de ser diferenciado. É lógico. Fazemos parte de um bloco e hoje a reunião foi diferenciada. Fiquei muito satisfeito. Senti que há boas intenções dos dois lados, mas temos de aguardar um pouquinho”, acrescentou o presidente da Fiesp.

O governo argentino garantiu que o novo regime de importação, em vigor desde o dia 1, não prejudicará a indústria brasileira. A saída para manter o comércio bilateral seria aumentar, tanto as compras brasileiras de produtos argentinos, quanto as importações argentinas de bens e serviços brasileiros. No encontro, não se falou sobre os produtos que haviam sido importados antes da vigência das novas normas e que estão parados nos portos e nas alfândegas, como tomates em conserva, milho e eletrodomésticos da linha branca.

Industriais gaúchos projetam piora no intercâmbio com argentinos

Se já era ruim com as licenças de importação, as novas medidas determinadas pelo governo argentino vão piorar ainda mais as relações com fabricantes gaúchos. A percepção é validada em sondagens feitas pela Federação das Indústrias do Estado (Fiergs) com os principais setores exportadores locais e por empresas e dirigentes de ramos como o moveleiro, um dos mais afetados pelas medidas impostas pelos vizinhos nos últimos anos. A conselheira da Associação das Indústrias de Móveis (Movergs), Maristela Longhi, aponta que o Estado mereceria atenção especial, pois acumula déficit na balança, enquanto o impacto para o Brasil não chega a ser negativo.

Para a dirigente da associação dos moveleiros, as promessas de ação mais forte de áreas do governo federal acabaram não se concretizando até agora. O setor gaúcho amargou em 2011 queda de 22,4% na receita com vendas para os argentinos frente a 2010. Já o Brasil teve alta de 19,9%. Mesmo a busca de mercados alternativos não contorna o impacto, pois a Argentina é atrativa. As licenças de importação, que deveriam ser de 60 dias, chegam a demorar mais de 180 dias. A dirigente descarta a possibilidade de ocorrer transferência de operações fabris para a Argentina, pressão que estaria por trás das sucessivas dificuldades geradas na liberação das importações. Maristela cita que o parque moveleiro vizinho não se atualizou nos últimos anos, o que inviabilizaria a migração de bases para fornecer produto a partir do país. Ela defende a revisão do acordo do Mercosul.

A percepção da conselheira da Movergs é reforçada pelos donos da Kep-pesberg, com sede em Tupandi, no Vale do Caí. Um dos donos, Celso Theisen, registra o sobe e desce das vendas desde 2008. A Argentina é o maior cliente externo, já respondeu por mais de 30% da receita e agora está em 24%. Segundo Theisen, licenças represadas durante 2011 foram liberadas em dezembro, aliviando o fluxo. “Mas já demoraram até oito meses. Tudo depende da boa vontade do governo”, diz o industrial, que tem faturamento total de R$ 30 milhões. A empresa chegou a sondar a implantação de uma filial no país, mas recuou ante incertezas sobre a legislação local.

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