Aumento de calote preocupa os fabricantes de móveis e colchões
E não é só o calote de pagamentos que preocupa. “Existe outro tipo de calote que também impacta muito na produção. É a desistência de pedidos feitos, que impõem descontrole nas compras de matérias-primas que depois não são utilizadas nos prazos adequados”, informou um fabricante de colchões
ano de 2022 deve ser de dificuldade para as empresas e marcado por um aumento de inadimplência nos pagamentos da cadeia de produção no Brasil, segundo pesquisa inédita realizada pela Intrum, empresa europeia de gestão de crédito e ativos. Cerca de 70% das 700 empresas ouvidas pela pesquisa, obtida com exclusividade pelo Valor Econômico, afirmam que a inadimplência deve saltar nos próximos meses. Já 76% delas afirmam que a recessão “é iminente no Brasil”.
Essa é a primeira vez que a Intrum realiza a pesquisa no país. Do total de companhias, 88% já esperam algum impacto negativo em seus negócios. Os setores mais receosos são os de consumo, em que 95% esperam desaceleração, e construção civil e imobiliário, com 93%.
A pesquisa ouviu 700 empresas entre 26 de janeiro e 16 de abril de 2021, das quais 74% foram pequenas e médias, com até 250 funcionários. As grandes companhias, com 250 funcionários ou mais, somaram 26%.
O executivo destaca que nos Estados Unidos e na Europa a inadimplência saltou ainda em 2020, com o surgimento da pandemia e das medidas para conter a disseminação do vírus. No Brasil, porém, o problema acabou sendo postergado. “Desde o fim do ano passado já se tinha expectativa que a inadimplência fosse explodir no primeiro semestre, depois no segundo semestre. Agora, há uma expectativa muito forte de que essa inadimplência vá acontecer”, afirma Rodrigues.
Segundo o executivo, o cenário atípico no Brasil ocorreu devido à renegociação de dívidas e dilatação dos prazos de pagamento pelos credores. A pesquisa da Intrum também revela que cerca de 28% das empresas realizam os pagamentos em um prazo superior ao que aceitaria receber de seus clientes. O dado, de acordo com Ulisses Rodrigues, reflete o menor compromisso do empresariado brasileiro em relação aos pequenos negócios.
Na Europa, 69% dos entrevistados afirmaram que as grandes companhias assumem responsabilidade de realizar os pagamentos aos pequenos negócios dentro do prazo. Já no Brasil, 29% das grandes empresas possuem um código de ética voltado aos repasses na cadeia de produção. “Existe uma pressão financeira muito grande sobre as pequenas e médias empresas, que acabam sendo a parte mais fraca da cadeia, mesmo sendo responsáveis por cerca de 70% da força de trabalho no Brasil”, destaca Rodrigues. Cerca de 17% dessas companhias já planejam diminuir o recrutamento de novos funcionários.
Além do maior risco de inadimplência por grandes parceiras, as empresas menores também sofrem maior dificuldade em obter crédito, o que maximiza o problema. Dentre os pequenos e médios negócios, 23% solicitaram extensões em prazos de empréstimos, enquanto nas grandes empresas o percentual alcançou 30%. “As pequenas e médias empresas acabam ficando em um limbo, e é uma lógica invertida. Há necessidade ética de gerenciar essas questões, considerando que as pequenas empresas afetam a economia tanto quanto as grandes”, afirma o presidente da Intrum.
No setor moveleiro preocupação também com calote de pedidos
Baseada nas informações da pesquisa reportada acima, a Móveis de Valor realizou uma sondagem junto a 63 empresários de móveis e colchões para confirmar se a preocupação é equivalente à identificada pela Intrum. E os dados são ainda mais preocupantes. Nada menos de 70% dos entrevistados pela MV afirmaram que já tiveram problemas com recebimento de créditos e 89% deles admitiram serem forçados a dilatar os prazos de recebíveis para evitar calote.
E não é só o calote de pagamentos que preocupa. “Existe outro tipo de calote que também impacta muito na produção. É a desistência de pedidos feitos, que impõem descontrole nas compras de matérias-primas que depois não são utilizadas nos prazos adequados”, informou um fabricante de colchões.
Casos como este foram relatados por outros fabricantes de móveis e tem sido mais comum a partir do fim do ano passado, por conta da alta demanda e escassez de suprimentos. “Alguns clientes compravam produtos semelhantes de dois ou mais fornecedores, preocupados em não receber no prazo, mas se as vendas não ocorressem como o esperado, cancelavam alguns pedidos e deixavam o prejuízo com o fabricante”, reclama outro empresário do ramo de móveis para quarto.
Pesquisa da Abicol, realizada entre 10 e 13 de setembro com fabricantes de colchões, também identificou preocupação dos empresários sobre os próximos meses. E o calote está no radar de preocupações da maioria, afinal a redução de margens deixa menos espaço para absorver este tipo de prejuízo.
(Texto com informações do Valor Econômico; e a edição dos dados do setor moveleiro por Ari Bruno Lorandi)
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