Cabo de guerra entre os elos da cadeia moveleira precisa acabar
Há mais de três décadas, nas palestras em polos moveleiros, eu começava sugerindo que os fabricantes de móveis presentes preenchessem um questionário atribuindo nota de 0 a 10 para a sua empresa e para o setor moveleiro. E não havia surpresa no resultado, a empresa vencia fácil. Mas como? São as empresas que fazem o setor e não o contrário. Simples, eu chamo de terceirização da culpa. Eu faço a minha parte mas os fornecedores e os lojistas não fazem a parte deles.
E qual será a “parte deles”? Dos fornecedores os industriais esperam o máximo de tecnologia pelo menor preço. E os lojistas querem o menor preço o maior prazo, mesmo sendo resistentes à inovação. Logo, a conta não fecha e os três elos da cadeia moveleira vivem em um verdadeiro cabo de guerra.
Vou dar um exemplo de prática constante. Este ano os painéis subiram 8%, vidros e espelhos 12, embalagens 8%, acessórios oito e meio, serviços terceirizados e mão de mais outros 13 ou 14% para a indústria. Se financiar as vendas pode colocar mais 60% no mínimo. Some-se tudo e repasse para o varejo. Afinal esses custos vêm dos fornecedores e o fabricante não pode absorver. Agora tente repassar 8% para os lojistas. É uma missão quase impossível.
Um exemplo do varejo em 2022: A inflação dos móveis de janeiro a novembro bateu na casa de 18%, enquanto isso o repasse de preços das indústrias ficou próximo de zero. O volume de vendas recuou quase 12%, mas – graças ao repasse de preços nas lojas – a receita líquida das vendas subiu 2,3%, contrastando com a queda no volume vendido.
Um empresário moveleiro resumiu: O Lojista ELEVOU o preço médio de venda e conseguiu REDUZIR o preço de compra, apertando as nossas indústrias! Assim, adequou o seu resultado, mesmo vendendo menor quantidade na média. É, meu caro moveleiro, foi exatamente o que aconteceu.
Mas existe outro dado mais preocupante do que tudo isso, por incrível que pareça: a ineficiência do varejo.
Lembro que na chegada dos anos 2000 grandes marcas de móveis planejados, decepcionados com o desempenho do varejo tradicional, resolveram investir em pontos de venda. A maior parte de móveis de cozinha saiu das lojas convencionais. Mas a iniciativa não foi muito bem-sucedida por duas razões: dificuldades para qualificar vendedores que passaram a se valer apenas de projeto no computador e ainda mais problemas na instalação dos móveis na casa do cliente. Ou seja, novamente a questão de mão de obra.
Tudo isso explica por que há 20 anos as famílias gastavam 2% de sua renda disponível para consumo comprando móveis, e hoje é menos de 1,5%. Andamos para trás.
Cá entre nós: Estamos terminando um ciclo e 2023 é um bom ano para resolver o gargalo da comercialização de móveis. Com eficiência, considerando a tecnologia embarcada e a melhoria da qualidade dos móveis, com certeza podemos recuperar uma boa parte do dinheiro das famílias disponível para consumo.
Nós estamos dispostos a fazer a nossa parte.
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