China: crise imobiliária ameaça preços de aço, diz Gavekal
A China reabriu a economia, mas as cicatrizes deixadas pelos lockdowns foram profundas. Pequenos comerciantes e empresários foram “dizimados”, diz a consultoria Gavekal num relatório que circula desde ontem (26). A maior preocupação, claro, é a crise no setor imobiliário. “A perda da receita de vendas combinada com o aperto na regulação causou uma crise financeira entre as incorporadoras,” dizem os analistas. “Elas deixaram de pagar as suas dívidas, reduziram os investimentos e paralisaram as obras”. Os comentários da Gavekal, uma das consultorias mais respeitadas na análise da economia chinesa, têm repercutido no mercado, onde cada vez menos se acredita que o governo chinês conseguirá contornar facilmente a crise. Trata-se de uma má notícia para os preços do minério de ferro e do aço. “Se os compradores não acreditarem que as incorporadoras vão honrar os contratos, as vendas de imóveis não vão se recuperar – e a economia também não,” afirma a Gavekal. “Os preços dos metais podem cair ainda mais”. Há riscos consideráveis de queda para o preço do minério de ferro e do aço, caso Beijing não apresente uma política pública “poderosa e confiável” de apoio aos incorporadores para completar os projetos – e assim reconquistar a confiança dos compradores no sistema de venda na planta.
Ainda de acordo com Gavekal, o governo chinês vai ampliar os gastos públicos em projetos de infraestrutura. É a receita clássica do Partido Comunista para sustentar a economia, mas não será suficiente para dar início a uma retomada mais sólida. “Para que o investimento privado e o consumo se recuperem, bem como o crédito, o mercado imobiliário precisa melhorar,” dizem os analistas. O mergulho do setor imobiliário, responsável por um quarto da atividade econômica chinesa, ganhou força depois da segunda onda de lockdowns em massa no segundo trimestre. As restrições afetaram a rotina diária e atingiram em cheio os pequenos empresários. O clima de incerteza arrefeceu o consumo. “As vendas de empreendimentos estão emperradas em níveis baixos, enquanto as empresas preferem adiar novos investimentos,” comenta a Gavekal. “Os estímulos fiscais e monetários tiveram tração limitada até o momento”.
Em meados do ano passado, o governo iniciou uma política para conter o aumento do endividamento imobiliário, depois das dificuldades financeiras em algumas das maiores companhias do setor. Os compradores, receosos de não receber seus imóveis, deixaram de pagar as prestações, aprofundando as dificuldades. Para evitar a falência, as construtoras dependem da boia de salvação lançada pelo governo. O setor imobiliário acumula quatro trimestres consecutivos de retração, algo sem precedentes em três décadas.
As estimativas do mercado para o crescimento da economia neste ano têm sido revisadas para baixo e estão ao redor de 4%. O Goldman Sachs também emitiu um alerta sobre os efeitos da queda no setor de construção civil. De acordo com as projeções do banco, haverá um excesso de oferta de minério de ferro no segundo semestre. Na primeira metade do ano, os preços do minério foram favorecidos porque havia um déficit estimado em 56 milhões de toneladas na oferta de minério de ferro. Agora o jogo virou: o Goldman projeta que haverá 67 milhões de toneladas de sobra no mercado. Como resultado, os analistas do banco preveem um mercado em queda para o minério e reavaliaram para baixo os preços. O alvo para a cotação de três meses caiu de US$ 90 para US$ 70 por tonelada e o de seis meses de US$ 110 para US$ 85.
A construção civil é responsável por metade do consumo de aço no país. Nos últimos dias, o mercado vinha operando sob a confiança de que o governo vai atuar para proteger as construtoras e conter os danos no mercado imobiliário. O preço do minério, em queda desde junho do ano passado, ensaiou uma recuperação e voltou a ficar acima de US$ 100 por tonelada no mercado asiático. Mas segue bem abaixo dos picos acima de US$ 200 registrados no ano passado. A China importa 1,1 bilhão de toneladas de minério de ferro por ano. O Brasil é o segundo maior fornecedor, atrás da Austrália, e 65% das vendas brasileiras têm o mercado chinês como destino.
PS: Na madrugada de hoje (27), a Bloomberg reportou que um bairro de Wuhan – a cidade que foi o marco zero da covid – implementou um lockdown para mais de 1 milhão de habitantes (Wuhan inteira tem 11 milhões de pessoas). É a primeira vez desde 2020 que a cidade implementa uma medida desse tipo, causando preocupação de que a medida possa se estender para outras localidades.
(Com informações braziljournal.com)
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