Ciclo de corte nos juros pode ir além do esperado, diz ex-BC
A manutenção da taxa Selic em um patamar elevado de 13,75% ao ano pode abrir espaço para um ciclo de corte de juros mais rápido e mais profundo do que é precificado atualmente pelo mercado. Nesse cenário, a taxa básica poderia atingir um nível de 6% ou 7% ao ano.
Esta é a visão do economista Tony Volpon, o ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central, que avalia a possibilidade de a autoridade monetária reduzir os juros abaixo do patamar considerado neutro para compensar o aperto monetário realizado nos últimos anos para combater a inflação.
Em entrevista à Bloomberg Línea, Volpon fez uma comparação com a situação de 2016, quando o BC, em sua avaliação, demorou a iniciar os cortes de juros e, depois, acelerou a flexibilização monetária nos meses seguintes.
“Em 2016, o ciclo de cortes demorou a começar. A inflação veio abaixo da meta no ano seguinte [em 2,95%, versus uma meta de 4,5%]. Temos o mesmo risco aqui. Em razão disso, poderíamos ter um ciclo mais rápido e mais profundo do que o que está hoje sendo precificado pelo mercado. É possível que cheguemos a 7% e 6%”, afirmou.
Antes de trabalhar no BC em 2015 e 2016, Volpon foi chefe de Pesquisas para Mercados Emergentes das Américas do Nomura Securities International, em Nova York; depois, trabalhou como economista-chefe do UBS para o Brasil e estrategista-chefe da gestora WHG, da qual saiu no fim de 2022.
Com a Selic em 13,75% ao ano desde agosto do ano passado, o BC deve iniciar um ciclo de corte na taxa básica de juros na reunião do Copom da próxima quarta-feira (2 de agosto).
Volpon disse entender que há espaço para um corte de juros de 0,50 ponto, aposta que ganhou força no mercado nesta semana depois do upgrade da nota de crédito do país pela agência Fitch Ratings de BB- para BB, além de deflação acima do esperado no IPCA-15 de julho.
O dado mais recente do IPCA, de junho, ficou em 3,16% na taxa em 12 meses, abaixo do centro da meta de 3,25%. Ao mesmo tempo, as expectativas para a taxa no fim deste ano e nos próximos têm cedido.
Diante desse cenário, uma das dúvidas do mercado é até que nível os juros poderiam cair. Volpon listou pontos a serem observados que devem interferir no ritmo e na abrangência dos cortes: as projeções de inflação ainda levemente desancoradas, a estimativa da taxa de juros neutra e o perfil considerado heterodoxo do novo diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, cotado para assumir a presidência do BC no lugar de Roberto Campos Neto em 2025, com nomeação já no próximo ano.
“A chegada do Galípolo e sua provável ascendência à presidência coloca um ponto de atenção no cenário, porque nunca na história do BC alguém vindo de uma escola heterodoxa foi presidente”, disse. “Vai ter uma troca de regime no BC”, afirmou, sinalizando que isso deve significar um prêmio sobre os juros até que o mercado tenha eventualmente uma certeza sobre como será a sua gestão.
(Fonte: bloomberglinea.com.br)
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