Ciência e economia: momentos de decisão
*Por Guilherme Arruda, jornalista convidado
A revista americana Science, publicou artigo produzido por pesquisadores da Harvard TH Chan School of Public Health (Escola de Saúde Pública da Universidade de Harvard) em que prevê vários cenários de como o coronavirus pode se espalhar nos próximos cinco anos levando em conta fatores como, por exemplo, se terá ou não sazonalidade. O que chama a atenção no estudo é a possibilidade do distanciamento social ou atitudes mais rígidas, como o lockdown, ser estendido até 2022 acontecendo em períodos intermitentes, ora de afrouxamento, ora de endurecimento das regras.
Desde a publicação, em 14 de abril, economistas de diversos matizes e de várias partes do mundo têm refeito cálculos sobre o que pode acontecer. Parte divide a retomada do crescimento em três fases: lenta (após 2022), intermediário (até 2022) e rápido (antes de 2022). Um segundo grupo acredita que o PIB da maioria dos países vai desabar neste ano e levará um tempo razoavelmente longo - superior a dois anos - até voltar a atingir o nível que existia antes do Covid-19. Caso o isolamento intermitente seja adotado é provável que o ritmo de crescimento econômico espelhe as oscilações das medidas – crescendo nos momentos de maior abrandamento, e se retraindo quando houver maior necessidade de isolamento – mas seja como for, o índice permanecerá em um patamar acanhado por um bom tempo.
Rápido e devagar
O trabalho da Harvard TH Chan School of Public Health é um entre tantos outros estudos que estão em andamento. A rigor, nada é definitivo. Há coisas que ainda não sabemos. A solução para a retomada global quem vai dar não é a economia, é a ciência. E mesmo que se encontre uma vacina que consiga controlar o vírus, ainda assim, será necessária uma logística global gigantesca que demandará tempo para que a normalidade seja alcançada. Assim, a recuperação econômica será forçosamente complexa e irremediavelmente gradual.
No caso do Brasil, os dois próximos anos serão muito difíceis. A recessão é inevitável e a melhora econômica dependerá do conjunto de medidas fiscais e monetárias a serem adotadas.
Os Estados Unidos enfrentaram uma situação terrível após o crash da Bolsa de Valores, em 1929. O presidente Herbert Hoover (1929-1933), num primeiro momento, achou que se tratava de uma recessão passageira. Agarrou-se a tese de que o controle das finanças era a primeira exigência da confiança necessária para o regresso à prosperidade e que a presença do Estado significava a destruição do capitalismo. Depois cedeu e lançou um programa de obras públicas para construção de barragens, implementou proteções para trabalhadores e aumentou os subsídios para a agricultura. A recessão continuou, depois se transformou em depressão. A administração seguinte, do presidente Franklin Delano Roosevelt (1933-1945), criou o New Deal. Apesar do sucesso, foi preciso esperar quase uma década para o país se recuperar.
Esforço de guerra
A causa do colapso hoje não é a ganância financeira de 1929 e sim, um vírus que retém milhões de pessoas em casa, com potencial de destruir sistemas econômicos de vários países. Independentemente da volatilidade dos movimentos do Covid-19, o Brasil não pode esperar muito tempo pela lentidão tímida de respostas para se reerguer, mesmo considerando as circunstâncias – e elas são muitas.
Robert Kuttner, coeditor do The American Prospect, em artigo publicado recentemente no The New York Times, argumenta que foi a mobilização para a II Grande Guerra (1939-1945) que curou a depressão americana. O governo dedicou uma média de 20% do PIB ao ano para o esforço de guerra, o que possibilitou a reconstrução da capacidade de produção, criou uma onda de inovações e de modernização da economia.
Não há como comparar as duas situações, mas em um puro exercício hipotético, caso a mesma regra fosse aplicada hoje no Brasil, 20% de um PIB de R$ 7,3 trilhões (IBGE 2019) significaria uma injeção de R$ 1,46 trilhão por ano na economia. Até agora o governo acenou com menos da metade desse montante, lembrando que uma pequena parcela é dinheiro novo.
Clique aqui para continuar lendo o artigo de Guilherme Arruda.
Comentários