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Classe C impulsiona indústria de móveis em SC

Por Edson Rodrigues - 21 de Junho 2011
A política cambial atrapalha as exportações, mas o mercado interno não para de crescer em consequência do aumento do poder de consumo da classe “C”. A ameaça é a China que concorre ferozmente nos mercados externos e internos com qualidade duvidosa e preços imbatíveis. Nesta entrevista, o presidente da Associação dos Moveleiros do Oeste de Santa Catarina (Amoesc) e do Sindicato da Indústria Madeireira e Moveleira do Vale do Uruguai (Simovale), Osni Verona, faz uma análise do setor e previsões para o segundo semestre de 2011. Com mais de 20 anos de atuação no setor, Verona é especialista em design de móveis e mestre em gestão e auditoria empresarial. Como o Sr. avalia o setor moveleiro neste primeiro semestre de 2011? Osni Verona – Para o mercado externo não estão faltando pedidos, porém, com o real valorizado e o dólar caindo, não está interessante exportar. Muitas empresas estão adequando seu parque fabril para acompanhar o crescimento fabuloso do mercado interno, onde a classe “C” está comprando mais que as classes “A e B” juntas. As empresas estão aproveitando esta oportunidade porque vai durar pelo menos uns cinco anos. Quais as expectativas para o segundo semestre deste ano e o Natal? Verona – O segundo semestre vai ter boa demanda se o governo não atrapalhar nas linhas de créditos e regularizar o seguro desemprego. Há muitas vagas no mercado de trabalho em todos os segmentos, mas muitos profissionais estão em seguro desemprego. São talentos estagnados, que acharam uma forma de aumentar sua renda. É preciso investir na capacitação de profissionais para o mercado de trabalho. Quais as principais ações que a Amoesc e o Simovale estão desenvolvendo neste momento? Verona – Estamos desenvolvendo missões tecnológicas para o segundo semestre. Vamos desenvolver um catálogo das empresas do nosso APL, em parceria com o Sebrae, para promover as nossas micro e pequenas empresas do setor madeira/móveis do Oeste de Santa Catarina. Um grupo de empresários vai participar da Feira Brasil Móveis que acontecerá em agosto, em São Paulo, com apoio do Sebrae, Amoesc e Simovale. Empresas exportadoras associadas ao Simovale, bem como os demais setores industriais da região, poderão facilitar a tramitação dos documentos necessários para a emissão do Certificado de Origem através do sistema COD BRASIL. O sistema permite a inserção online das informações pertinentes à certificação de origem. Essa oportunidade é resultado de uma parceria firmada entre o Simovale e a Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (FIESC). A Central de Negócios será dinamizada? Verona – Outra ação para o segundo semestre de 2011 é revitalizar a CEMOV (Central de Negócios Moveleiros do Oeste de SC). Queremos dinamizar, cortar custos e desperdício nas micro e pequenas empresas do nosso APL, fazendo compras conjuntas de itens comuns de uso universal em todas as empresas como: embalagens, tintas e vernizes, MDF, abrasivos, parafusos, equipamentos de segurança EPIs etc, começando pela região de Chapecó como piloto e depois ampliando para os 83 municípios do nosso grande Oeste. Com relação à Escola Moveleira, criada para suprir a escassez de mão de obra qualificada, quais as ações para o futuro? Verona – Na escola moveleira, com apoio e a gestão do Senai, vamos trabalhar fortemente na formação de mão de obra com treinamentos de acordo com as necessidades do setor, preparando cada vez mais profissionais para o mercado de trabalho nas indústrias da nossa região. Queremos construir uma casa ecológica em nossa sede do Simovale/Amoesc. Vamos disponibilizar para as micro e pequenas empresas um espaço para expor seus produtos em ambientes decorados, como salas, cozinhas, quartos, banheiros, onde as empresas receberão um selo de qualidade e de membro do nosso APL. As indústrias moveleiras do oeste enfrentam problemas de mão de obra como outros setores da economia? Verona – Sim, a situação nas indústrias madeira/móveis é igual aos outros segmentos da indústria, comércio e prestação de serviço. Estamos vivendo um verdadeiro apagão de mão de obra. No nosso setor o problema é maior ainda porque as empresas necessitam de mão de obra qualificada em todos os níveis hierárquicos. Por isso, digo que o governo deve tomar providência quanto ao seguro desemprego que hoje virou fonte de renda, e não uma oportunidade para o beneficiário se qualificar para o mercado de trabalho como foi no início. Como está o processo de valorização dos móveis do oeste catarinense diante dos consumidores nacionais? Verona – Temos a alegria e a satisfação de ter em nosso meio empresarial empreendedores que rompem limites, e móveis de várias empresas estão em cenários de novelas das mais importantes emissoras de televisão em nosso país. E isso nos dá credibilidade e valorização porque temos tecnologia e design para todas as classes sociais que procuram móveis de qualidade e conforto. As grandes redes varejistas nacionais se interessam pelos móveis do oeste? Verona – As grandes redes estão comprando novidades em design com preço adequado à sua clientela, com prazo de pagamento e, principalmente, pontualidade de entrega, pois se o fornecedor deu motivo é trocado por outro independente da região do país. Que medidas deveriam ser tomadas para minimizar essa problemática? Verona – Criar indicadores para moralizar o seguro desemprego por região conforme o índice de emprego. Se a pessoa tem que receber seguro desemprego deverá desempenhar trabalhos comunitários até que retorne ao mercado de trabalho. Isso fará com que o candidato ao seguro desemprego pense melhor antes de dar o jeitinho brasileiro de driblar a formalidade e ir para a informalidade. Acabar com as políticas sociais paternalistas e desnecessárias, exigindo alguma responsabilidade dos favorecidos e não só lhes conferindo direitos, é uma mudança radical na CLT. Como podemos definir a atual situação dos mercados interno e externo de móveis? Verona – Ainda existem muitas oportunidades no mercado externo e o volume de países compradores aumenta cada vez mais, porém, com o dólar neste estágio de desvalorização, o real valorizando e o custo Brasil que não para de crescer, as empresas estão cada vez mais apostando no mercado interno. Mas ainda é preocupante porque temos duas pedras em nosso sapato: a concorrência chinesa lá fora e a mesma concorrência chinesa no mercado interno por produtos importados da China e Taiwan. Porém, no Brasil, quem faz móveis de qualidade e aproveita as oportunidades com competência está garantindo o sustento de seus empreendimentos, e quem não assim o faz vai viver do resto de um mercado infiel e mau pagador. O projeto com o designer Marcelo Rosembaum para criar o “móvel do oeste” vai decolar neste ano? Verona – Estamos na expectativa para o segundo semestre deste ano, pois o Ministério da Integração Nacional é o maior parceiro nesta grande ideia de promover nosso Polo Moveleiro do Oeste de Santa Catarina para a implantação do Núcleo de Design e Inovação. A escolha deste grande e renomado profissional em design da atualidade hoje no Brasil, Marcelo Rosembaun, em trabalhar na capacitação de profissionais na área e colocar nosso Polo em destaque em grandes eventos no Brasil como a copa do mundo em 2014 e a olimpíada de 2016, pois serão construídos mais de 5000 mil hotéis até lá. Queremos estar presentes representando e gerando negócios com todos os segmentos moveleiros das indústrias do nosso grande Oeste de Santa Catarina. A Amoesc/Simovale vai reivindicar redução de impostos para aumentar a venda de móveis em SC? Verona – Sim, vamos trabalhar junto a FIESC, para a desoneração da folha de pagamento, pois quem está dando emprego não pode ser penalizado. Queremos que o limite do simples nacional seja aumentado pelo menos três vezes mais do que está hoje, porque com um teto mínimo não dá ânimo de lutar para crescer. Isso contribui com a acomodação, estagnação e o sucateamento das micro e pequenas empresas, porque se crescer será penalizado, então cria-se um cemitério de ideias e projetos engavetados sem valor nenhum e ficamos batendo palmas com as orelhas.

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