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Como mercado deve reagir após troca de comando da Via

Na noite de sexta-feira 31 de março, após o fechamento do mercado, a Via, varejista dona das Casas Bahia e Ponto, fez um anúncio inesperado. Ela informou que Renato Franklin substituirá Roberto Fulcherberguer como CEO da empresa a partir de 1º de maio de 2023. Fulcherberguer deixa a Via após mais de 20 anos de serviço, os últimos três como CEO.

 

Franklin atuou como CEO da empresa brasileira de aluguel de carros Movida de 2014 até os dias atuais. Franklin liderou – em seu mais recente cargo de gestão na Movida – iniciativas para diversificar as fontes de receita da empresa, que incluíram a entrada no negócio de venda de veículos seminovos, prática que sua concorrente Localiza tem mantido por muitos anos. Antes disso, ocupou diversos cargos na Vale.

 

A decisão de mudança, segundo informações da imprensa, teria partido da diretoria da Via, que acredita que a empresa entrou agora em um novo ciclo de negócios. Já segundo a ata da reunião do Conselho de Administração da Via que deu aval para a troca, Fulcherberguer renunciou ao cargo.

 

O Goldman Sachs aponta que os principais desafios que Franklin enfrentará ao assumir o comando da Via incluirão, em sua opinião: (1) a mudança online contínua das principais categorias de eletrodomésticos, eletrônicos e móveis, (2) a capacidade de atrair tráfego recorrente de clientes nos seus sites, apesar da frequência de compra relativamente baixa de suas categorias principais, (3) gerenciar despesas financeiras relativamente elevadas (7% da receita líquida em 2022) dada a posição alavancada da empresa (2,2 vezes a dívida líquida incluindo aluguéis sobre Ebitda ajustado ou 4,9 vezes em uma definição clássica que não considera recebíveis como caixa) e (4) enquanto que, apesar de o desempenho das vendas nas lojas físicas ter mostrado melhora nos resultados mais recentes, o tráfego e as vendas ainda não retornaram aos níveis pré-pandemia.

 

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“Também acreditamos que a demanda por bens duráveis permanecerá limitada ou volátil nos próximos meses, dada a elevada alavancagem das famílias e o apetite limitado da maioria dos varejistas (incluindo a Via) para adicionar risco com produtos BNPL [Buy Now Pay Later, forma de pagamento a prazo que permite aos compradores efetuarem compras online e pagarem em parcelas mais tarde]”, apontam os analistas.

 

Do lado positivo, a reestruturação em curso na principal concorrente da Americanas pode criar oportunidades para ganhos de participação de mercado. A Via está, em teoria, bem posicionada para capturar parte desse mercado, com uma posição de marca forte com clientes de baixa renda e possui amplo know-how em empréstimos para esses grupos de consumidores.

 

“No entanto, notamos que o crescimento neste segmento de varejo tende a vir com altas exigências de capital de giro (especialmente através de longos períodos de recebíveis), e a atual estrutura de capital pode limitar sua flexibilidade financeira para buscar tais oportunidades”, apontam os analistas.

 

O JPMorgan aponta que, dentro de um contexto mais amplo da atual situação e estratégia da empresa, vê sua renúncia como inesperada já que se segue à renúncia de Helisson Lemos – VP de Inovação Digital, em 9 de março (juntamente com os resultados do 4T22), que foi uma peça chave por trás dos esforços de transformação digital da empresa e da estratégia omnichannel.

 

“No geral, esperamos que as ações reajam negativamente ao anúncio, uma vez que (1) em menos de um mês houve duas mudanças importantes na administração no contexto de que (2) a empresa enfrenta um ambiente macro desafiador com consumidores alavancados junto com (3) um balanço patrimonial alavancado, tendo desempenho inferior aos pares em termos de crescimento recentemente enquanto imprime geração tímida de fluxo de caixa livre, principalmente suportada pela monetização de créditos fiscais e pontuais/antecipação da extensão de acordos comerciais”, apontam os analistas do JP.

 

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O Citi avalia que, durante seus 3 anos como CEO, Fulcherberguer trouxe avanços importantes e conseguiu reformular a marca da empresa, com conquistas importantes na estratégia online, incluindo a escalada do negócio 3P (ou marketplace) basicamente do zero e reformulação do modelo de loja.

 

“Ainda temos dúvidas sobre o momento/ razão dessas mudanças de gestão, especialmente porque elas aconteceram em meio a mudanças consideráveis ​​no cenário competitivo. Aguardamos maiores detalhes da Via; tudo o que sabemos até agora é que o conselho está procurando iniciar um novo capítulo, conforme o comunicado à imprensa”, apontam os analistas.

 

O Citi espera que, com base em sua vasta experiência em companhias abertas, Renato Franklin mantenha um diálogo transparente com o mercado. 

 

(Com informações InfoMoney e edição Móveis de Valor)

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