Congresso Movergs reúne 400 pessoas em Bento Gonçalves
Visando apresentar uma reflexão alinhada à realidade pós-pandemia a Associação das Indústrias de Móveis do Estado do Rio Grande do Sul (Movergs) promoveu nesta terça (11), em Bento Gonçalves, a 30ª edição do tradicional Congresso, que ocorre desde 1989, mas deixou de ser realizado por dois anos, devido às restrições impostas pelo novo coronavírus. O evento ocorreu no dia em que o Município comemora 132 anos de emancipação político-administrativa.
O presidente da entidade, Rogério Francio, exaltou não somente a retomada na celebração dos 35 anos da Movergs, mas principalmente a adesão dos profissionais da cadeia moveleira, num encontro de qualidade, que objetiva trabalhar a promoção da competitividade, da excelência e da inovação. “Em 2020 já estávamos sofrendo com a escassez de matéria-prima, com o alto custo dos fretes e, com o início da pandemia, tivemos uma freada brusca nos negócios. Porém, não ficamos parados. Investimos em estratégias, design e parcerias. E mesmo em home office, vimos um aumento considerável no consumo interno e nas exportações”, disse.
O Rio Grande do Sul conta com 2.409 empresas do setor moveleiro, que registraram em 2021 um faturamento acima de R$ 11,2 bilhões. Com relação às exportações, no mesmo ano, o crescimento com relação a 2020 foi de 63%, atingindo US$ 243 milhões. Além disso, durante a pandemia, foram abertos 2.623 novos postos de trabalho. Em 2022, no primeiro semestre, o faturamento aumentou 5,1% com relação ao mesmo período do ano passado. Já se comparado a 2019, o crescimento foi de 64%.
Durante o Congresso, os economistas Marcos Lelis, da Unisinos, e Rodolfo Margato, da XP Investimentos, falaram, respectivamente, sobre os dados do setor moveleiro e as perspectivas para 2023, focadas nos impactos sobre o setor.
Lelis apresentou informações sobre o mercado global de exportações, varejo, importações e geração de empregos. Conforme ele, o Brasil figura entre os principais produtores de móveis, ocupando a 16ª posição, porém, tendo registrado uma retração nos últimos 10 anos, de 2,4% em 2012, e de 1,5% em 2022. Em primeiro lugar está a China, seguida pelos Estados Unidos, Índia, Itália e Alemanha. Destes, entre 2012 e 2022, China e Índia registraram crescimento na produção.
Com relação ao varejo, o economista destaca que os maiores compradores de móveis são Estados Unidos, China, Alemanha, Reino Unido e Japão. Neste quesito, o Brasil ocupa a 12ª posição. Quando o assunto são as exportações, China, Polônia, Vietnã, Alemanha e Itália ocupam as cinco primeiras colocações. O Brasil aparece na 26ª colocação. No tocante a importações, Estados Unidos, Alemanha, França, Reino Unido e Holanda figuram entre os maiores importadores de móveis. O Brasil aparece na 62ª posição. Este é o único quesito em que a China não se posiciona entre os dez primeiros.
Com otimismo, Lelis enfatizou que o cenário nacional teve uma retomada muito forte no período pós-pandêmico, em praticamente todos os setores. O moveleiro, em especial, contou com fatores que contribuíram para que não sentissem com tanta força os impactos negativos. “Ficar em casa fez com que as pessoas dessem atenção especial aos seus ambientes. Diante do fechamento do setor de serviços, dos impedimentos em viajar, em frequentar restaurantes, entre outros, grande parte da renda foi destinada ao setor de bens duráveis”, ressaltou.
Ainda conforme ele, o varejo deve crescer em torno de 1% no início de 2023, mas até lá, se vê quedas no volume de vendas. Os empregos formais também tiveram uma desaceleração muito forte neste ano, se comparados ao salto registrado em 2021. Foram mais de 17 mil ano passado, contra menos de mil neste ano. De qualquer forma, Lelis destacou que o Rio Grande do Sul mantém a estabilidade, sendo que um dos motivos é o fato de que é o Estado que melhor paga os trabalhadores, à frente de São Paulo, Santa Catarina, Minhas Gerais e Paraná.
Com relação às perspectivas econômicas, Margato frisou que o desequilíbrio entre oferta e demanda levou a inflação a patamares elevados, em cerca de 10%, nos Estados Unidos, Zona do Euro e Reino Unido, algo que só se via em economias emergentes. “Costumo comparar a inflação à febre no organismo humano. Ela é um sinal de que tem alguma coisa errada. Num primeiro momento pode ser que não se identifiquem as causas e que se pense que pode passar logo. Mas o tempo tem passado e a percepção é de não está cedendo. A pandemia foi a responsável pelo grande choque. Porém, outro fator, registrado no início de 2022, que ninguém ou praticamente ninguém esperava, foi a Guerra na Ucrânia, que persiste e pressiona ainda mais a inflação”, contextualizou o economista.
Ele alertou que o caminho da desinflação não será fácil. “Provavelmente os juros vão continuar subindo por mais alguns meses nos Estados Unidos e na Europa, a patamares acima do que era visto antes da pandemia. A desinflação global deverá ocorrer ao longo de 2023, mas o remédio amargo (alta da taxa de juros) terá uma dose maior e ficará conosco por um bom tempo”, finalizou.
O 30º Congresso da Movergs contou também com a apresentação do Case “Cabecasa – A experiência do consumidor”, com o vice-presidente de desenvolvimento de produtos da MadeiraMadeira, Santiago Antoranz Pons. E com as palestras “O desafio da mudança”, com o filósofo Luiz Felipe Pondé, e “Economia da experiência – todo negócio deve ser visto como showbusiness”, com o CEO do Rock in Rio, Luís Justo.
*Por Monica Rachelle, jornalista convidada
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