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Demissões já começam a ocorrer na indústria moveleira

Por Natalia Concentino - 29 de Abril 2020

Desde que a pandemia começou a atingir o Brasil de forma mais contundente, os empresários falam sobre os riscos financeiros que ela pode causar, principalmente se levarmos em consideração o grande número de micro e pequenas empresas que não terão fôlego para resistir a muitos meses de economia em recessão. No setor moveleiro isso não é diferente. Aliás, grande parte das moveleiras nacionais se encaixam na categoria de pequenas empresas, ou seja, o setor vive agora à beira do caos. Não à toa, passadas as férias coletivas e depois de alternativas para manter os trabalhadores serem usadas, as indústrias moveleiras já começam a demitir funcionários.

Segundo Maristela Cusin Longhi, presidente da Abimóvel (Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário), “pelas estimativas que temos neste momento, o setor já demitiu em torno de 13 mil pessoas”. Esse número corresponde a 5% do contingente de trabalhadores do setor moveleiro que, ainda de acordo com a Abimóvel, gerava 270 mil empregos diretos antes da pandemia, o que corresponde a 8ª cadeia produtiva que mais emprega no país.

Esses números coincidem com as observações dos presidentes de sindicatos moveleiros, que estão mais perto dos empresários e acompanhando as indústrias de sua região. De acordo com Maic Caneira, vice-presidente do SIMM (Sindicato da Indústria do Mobiliário de Mirassol), as empresas estão chegando a um momento crítico. “Muitos já usaram banco de horas e férias para tentar contornar a situação. Mas, pelo que percebi conversando com alguns empresários, as demissões já estão na casa dos 5% e, dependendo de como as coisas evoluírem, a demissão pode se tornar a única opção”, afirma.

Rogério Francio, presidente da Movergs (Associação das Indústrias de Móveis do Estado do Rio Grande do Sul), informa que a entidade fez uma pesquisa para avaliar a situação das indústrias moveleiras gaúchas. “O retorno que tivemos é que elas reduzirão entre 5% e 30% o quadro de funcionários”, admite Francio. Ele lembra que as empresas de móveis no Rio Grande do Sul geravam 40,8 mil postos de trabalho até a chegada da crise.

Em Santa Catarina a situação não é diferente, de acordo com Fernando Hilgenstieler, presidente do Sindusmobil – Sindicato da Indústria do Mobiliário de São Bento do Sul. “Temos algo em torno de 6.800 trabalhadores na indústria moveleira ou da madeira. Desse total, pelo que pude apurar, porque poucas responderam, aproximadamente 5% dos funcionários já perderam o emprego. Apenas duas empresas representam 80% desse número”, conta Fernando. Ele conta que quando perguntava sobre as demissões aos empresários, todas as respostas sempre vinham acompanhadas de “ainda não demiti”. “Então acredito que teremos muitas demissões pela frente. Muitos fabricantes dependem exclusivamente das lojas de rua, que em boa parte dos grandes centros estão com as lojas fechadas”, comenta.

De acordo com uma pesquisa feita pelo Sebrae/SC, 91% das indústrias dos ramos de madeira e móveis diminuíram seu faturamento desde o início da quarentena.

Ademilse Guidini, presidente do Sindimol – Sindicato das Indústrias do Mobiliário de Linhares e Região, no Espírito Santo, ainda não possui números relacionados ao desemprego, mas fez uma breve exposição sobre o momento vivido pelo setor na região. “Com relação ao desemprego, as empresas fizeram todo tipo de esforço e aproveitaram os benefícios para o momento como forma de evitar ao máximo as demissões, mas ainda não temos os números precisos, uma vez que ainda temos empresas em férias coletivas, que só retornam às atividades no final deste mês. Estamos aguardando para avaliar melhor”, afirma Guidini.

Em Minas Gerais também não há números precisos sobre as demissões nas moveleiras. “Não temos números oficiais sobre demissões”, declarou Aureo Barbosa, presidente do Intersind (Sindicato Intermunicipal das Indústrias do Mobiliário de Ubá). Durante a entrevista fez questão de destacar alguns números do Sebrae sobre a situação de micros e pequenas empresas no Brasil. “Até o início de abril, pelo menos 600 mil micros e pequenas empresas fecharam as portas e 9 milhões de funcionários foram demitidos. Quanto mais tempo essa estagnação da economia durar, menor a probabilidade de as pequenas empresas terem capital suficiente para se recuperar”, alerta o presidente do Intersind.

 

Linhas de crédito

Ao conversarmos com os líderes dos sindicatos moveleiros, foi possível perceber uma reclamação em comum: a dificuldade de acesso às linhas de crédito. Eles afirmam que os empresários não estão conseguindo realizar empréstimos para manter a empresa e o quadro de funcionários nesse momento de crise.

“Quanto às linhas de crédito, muitos dos nossos associados têm nos procurado porque têm dificuldades para conseguir os empréstimos. O processo não é tão simples quanto tem sido anunciado pelos bancos, e a burocracia parece até ter aumentado em muitos dos casos. O Sindimol, em parceria com o Núcleo de Acesso ao Crédito da Federação das Indústrias – FINDES, está em contato direto com as instituições financeiras para auxiliar as empresas para que cumpram as exigências dos bancos, a fim de obterem acesso às linhas disponíveis”, informa Guidini.

Maic Caneira concorda que as linhas de crédito estão muito difíceis de serem acessadas por conta das exigências. “As linhas são extremamente complicadas de acessar, as taxas de juros são altas e eles pedem garantia real, como barracões com escritura registrada. As decisões mais drásticas devem começar a acontecer de agora para frente se nada mudar nesse cenário”, alerta Maic.

Fernando Hilgenstieler acredita que os juros estão dentro da realidade. “O acesso ao crédito é limitado por conta da procura. Os juros estão dentro da realidade mas, em conversas informais percebemos que algumas empresas não têm crédito ou já perderam o crédito”, admite.

A presidente da Abimóvel faz um paralelo entre as linhas de crédito e as demissões. “O número de demissões tende a se agravar se não houver uma rápida reconquista da economia, se o comércio não retomar urgentemente, se não forem colocados instrumentos e linhas de crédito à disposição, principalmente para micro e pequenas empresas e, simultaneamente, auxílio para pagamento da folha dessas empresas, depois das medidas já tomadas pelo governo para diminuir os custos trabalhistas, evitando demissões”, analisa Maristela.

Ela prossegue apontando as dificuldades enfrentadas pelos empresários. “O que vemos é um gargalo muito grande do sistema financeiro em operacionalizar as linhas ofertadas às empresas, assim como muitas restrições de instituições bancárias por conta do risco e da previsão de uma grande recessão pela frente. Com certeza, esta situação está impactando diretamente a saúde financeira e a sobrevivência de muitas empresas".

“A Abimóvel tem presente que o Governo Federal e, em especial, o Ministério da Economia agiu rapidamente frente ao recrudescimento da pandemia. Estamos nos reunindo com regularidade com o Ministério da Economia, levando todas as demandas repassadas pelos nossos empresários e construindo em conjunto alternativas que venham diminuir os prejuízos. Na tarde do último dia 23 tivemos outra reunião onde reiteramos ao Governo a utilização de garantias do Tesouro Nacional para viabilizar as operações financeiras de forma mais ágil, assim como a solicitação de que não seja necessário a apresentação de certidões negativas neste momento de Calamidade Pública”.

Maristela reforça que a Abimóvel está correndo atrás de medidas que também contemplem as empresas exportadoras. “Estamos trabalhando junto ao Governo Federal e Ministério de Economia na construção de linhas de crédito que contemplem empresas de médio porte e empresas exportadoras, não contempladas nas medidas anunciadas até agora”, conclui.

 

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