IMG-LOGO

Designers apontam novo caminho para o setor

Por Jeniffer Oliveira - 09 de Agosto 2018

Veja galeria de fotos acima

Foi-se o tempo em que o consumidor adquiria móveis pensando apenas na funcionalidade do produto. Cada vez mais as pessoas buscam peças que, de alguma maneira, agreguem valor e simbolizem algo. A decoração e os móveis de uma casa são fatores que estão estritamente ligados à identidade das pessoas, dessa forma, entende-se que os elementos são muito mais do que a própria matéria. São artefatos que, por meio do design, comunicam.

 

Originalmente, o termo design surgiu da Inglaterra, no século XVIII, como uma tradução da palavra italiana “disegno”, mas, somente com o progresso da produção industrial e com o surgimento das escolas de Design, é que a expressão passou a caracterizar uma atividade específica no processo de desenvolvimento de um produto.

 

Com isso, o profissional de design pode ser considerado um projetista. Na fabricação de móveis, o designer é o profissional especializado em ambientes e mobília e seu principal objetivo é aliar alta qualidade, conforto, durabilidade, praticidade e beleza ao móvel. Entretanto, tem-se notado a necessidade de que os designers extrapolem os objetivos de praxe do design e se reinventem a cada dia, buscando atender à uma demanda que não conecta o valor do produto somente à qualidade da matéria-prima ou à aparência do móvel, por exemplo, mas que busca algo que transcenda a esses elementos.

 

Em Curitiba (PR), os designers Mauricio Noronha e Rodrigo Brenner, fundadores do estúdio Furf Design, trabalham juntos há 6 anos e, para eles, o objetivo principal do trabalho é simples: ultrapassar a matéria e dar significado ao produto. Formados pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), os profissionais trabalham juntos desde a sala de aula. Com o término da faculdade, eles decidiram aflorar o objetivo que tinham em comum: criar produtos que causem impactos.

 

Ligados à essa finalidade, os designers contam que o segredo para dar significado aos produtos está conectado às pessoas. São elas as protagonistas de cada criação. Para a dupla, o ponto de partida da criação de um produto tem que ser a pessoa que vai usá-lo e não o produto em si. Com isso, perguntas como “que efeito esse móvel vai causar na vida das pessoas?’’ ou “por que estamos criando isso?” são a chave para um bom projeto. Os profissionais garantem que, nesse processo criativo, as inspirações podem originar das mais variadas fontes e isso passa longe da complexidade. As criações podem partir de sentimentos, pessoas, situações ou de um leque imaginário particular de cada um.

 

Um exemplo disso é a cadeira "Anjinho”, uma criação da dupla do estúdio Furf Design que representa uma situação real. Quando as crianças estão sentadas desenhando, desconectam-se do ambiente em que estão para imergir-se em um mundo criativo. Um mundo que é só delas. E os pais, ao verem os filhos tão serenos e concentrados no que estão fazendo, geralmente fazem a seguinte analogia “Meu filho não parece um anjinho?”. Segundo Rodrigo Brenner e Mauricio Noronha, sem uma criança, a cadeira Anjinho é só mais uma cadeira qualquer. Quem realmente dá significado a ela são os pequenos anjinhos que nela sentam.

 

Outro móvel que não foi criado apenas para atender a sua funcionalidade é a cadeira Tomtom. O móvel é a materialização de que um produto pode ter diversas interpretações diferentes, especialmente na mente de uma criança. A Tomtom tem cem possibilidades de combinações de cores distintas, para poder ser criada assim como a personalidade e a criatividade das crianças: única. A peça já foi exposta na Semana de Design de Milão, em 2013, publicada nos livros Wood Works (2013) e Kid’s Design (2013) e premiada com ouro no IDEA/Brasil 2013.

 

Outra criação da dupla que, de longe, parece relativamente simples é o sofá Bloom. Como qualquer outro, a peça almofadada possui encostos, laterais e assentos e o diferencial está em um pequeno detalhe. Cada botão presente no sofá de caráter atemporal é uma pequena flor de couro produzida artesanalmente. Para os designers Rodrigo Brenner e Mauricio Noronha, “talvez um botão seja uma flor que ainda não floresceu”.

 

Para a dupla criadora, na essência todo ser humano é igual. Nos sensibilizamos com aquilo que nos toca de alguma forma. O diferente, aquilo que toca no mais íntimo, sempre nos chama mais a atenção. “É preciso extrapolar a matéria dos objetos e mergulhar em um processo em que os móveis ajudem as pessoas a contarem as próprias histórias”, afirma Rodrigo Brenner.

 

A necessidade desse “novo design” não tem brotado apenas de desejos de consumidores. A indústria tem se mostrado cada vez mais aberta a tudo aquilo que conecte qualidade à propósitos e, para isso, tem caminhado lado a lado com os profissionais de designers.

 

 Aos profissionais da área que desejam embarcar nesse novo conceito do design, o ponto Norte é simples, lembrar-se de que não importa o que um profissional está projetando. O produto será só um meio de transmissão de uma mensagem que vai além da matéria. Cada criação é merecedora de um significado.

 

Matéria publicada originalmente na edição de julho da revista Móveis de Valor.

Comentários