Empresa canadense transforma hashi em móveis e decorações
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Se pensarmos que os hashis (pauzinhos de comida chinesa) são um item geralmente utilizado uma única vez e por menos de uma hora, durante as refeições, a América do Norte está importando unidades demais: são cerca de 40 a 50 bilhões de pares por ano.
A maioria desses hashis é de bambu. Em geral, são fabricados na China e enviados a milhares de quilômetros pelo mundo afora. No entanto, assim que termina o almoço ou o jantar, eles vão parar direto no lixo.
Mas uma empresa canadense acaba de dar outro destino a cem milhões de hashis descartados que, normalmente, estariam destinados a aterros sanitários. A ChopValue está transformando esse material em móveis, como mesas, armários e prateleiras. Também está começando a transformá-los em decoração para interiores de restaurantes – inclusive para o McDonald’s.
Pauzinhos de comida chinesa são abundantes em muitas cidades ao redor do mundo. Nos EUA, o número de estabelecimentos de fast-food asiáticos aumentou 135% entre 1999 e 2015. Em um dia normal na cidade de Vancouver, onde está localizada a sede da ChopValue, as pessoas descartam em média 100 mil hashis.
Operando em 12 cidades ao redor do mundo, os parceiros de coleta da ChopValue incluem redes de restaurantes como Wagamama e P.F. Chang´s, além de escolas, universidades, escritórios corporativos e o Aeroporto Internacional de Vancouver. A equipe da ChopValue coleta semanalmente os utensílios das lixeiras exclusivas localizadas nesses locais parceiros.
Quando fundou a empresa em 2016, Felix Böck, que é formado em engenharia de madeira, primeiro se interessou em encontrar uma maneira de tornar a fabricação circular mais fácil de explicar.
“No começo, eu usava um simples hashi como um ponto de partida para contar histórias”, diz ele, “e realmente não esperava que isso se tornasse um negócio viável”.
Depois que os pauzinhos são recolhidos – o que a empresa chama de “colheita urbana” – eles são higienizados e separados. A seguir, é aplicada uma resina à base de água.
As peças são secas em estufas e prensadas a altas temperaturas em uma prensa hidráulica. Por esse processo, elas são transformadas em ladrilhos que vão formar os componentes modulares dos móveis.
Böck admite que é difícil visualizar a escala alcançada com matérias-primas tão pequenas. Mas eles coletam 350 mil toda semana apenas em Vancouver.
Cerca de 10 mil hashis são usados na construção de uma mesa, sendo que a empresa tem capacidade de fabricar oito a 10 mesas por dia, assim como outros itens, entre eles tábua para queijos (feita com cerca de 300 pauzinhos), prateleiras (cerca de 1,5 mil a 2 mil) e armários (cerca de 2,5 mil).
Somando toda a sua operação, a ChopValue está economizando em grande escala as emissões maciças de carbono decorrentes do transporte de matérias-primas e materiais em longas distâncias.
Em vez de ter um único polo fabril, a empresa adota um modelo de “microfábrica descentralizada”: ela abre uma pequena fábrica em cada local onde atua, por meio de franquias.
Além de gerar novos empregos, essa estratégia reduz as emissões do transporte de matérias-primas por milhares de quilômetros até uma fábrica e, em seguida, enviar o produto de volta. Neste sistema, todo o processo ocorre dentro de um raio de 40 quilômetros.
Cada local de microfábrica é cuidadosamente planejado: é preciso ter um fluxo de material grande o suficiente, além de um mercado para vender os produtos.
Atualmente, a ChopValue opera em seis localidades no Canadá, além de Boston e Las Vegas (nos EUA) e em um punhado de cidades globais, incluindo Cidade do México e Liverpool (Inglaterra). Em 2023, deve se expandir para mais estados e para a Ásia, incluindo 25 fábricas na Indonésia e cinco em Cingapura e na Malásia.
Um próximo passo importante é testar um modelo verdadeiramente circular: fabricar os móveis para os próprios restaurantes que doam seus hashis. Eles já começaram a fazer isso com o Pacific Poke, uma cadeia de restaurantes do Canadá, para o qual são o único fabricante de tampos de bar e decoração de parede.
Embora não seja uma rede que tradicionalmente usa pauzinhos, o McDonald’s foi outro parceiro desde o início. Em três restaurantes-piloto canadenses – em Vancouver, Calgary e Toronto –, a ChopValue construiu tampos de mesa e paredes decorativas com pauzinhos nas próprias fábricas dessas cidades.
Assim que a empresa conseguir demonstrar suficientemente que esse conceito de microfábrica funciona, Böck acredita que ele poderá ser replicado com vários outros tipos de resíduos.
“O grande volume de pauzinhos de comida chinesa me fez perceber que mesmo as menores coisas podem funcionar em uma economia circular viável, desde que você faça isso da maneira certa.”
(Com informações FastCompany)
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