Matérias-primas para colchões continuam a escalada de preços
TDI encabeça a lista com aumento de 80%, Poliol vem na sequência com 40% e os molejos logo atrás com 35%, neste caso motivado pelos reajustes do aço e de 130% no TNT
O ano não está sendo fácil para ninguém. Mas está especialmente difícil para alguns setores. No caso do colchoeiro, além das consequências inerentes à pandemia, a alta do dólar impacta diretamente no preço de commodities como TDI e Poliol, matérias-primas usadas na produção da espuma, e do aço para a produção de molas. Sem falar dos aumentos motivados pela alta demanda que, no caso do TNT (usado para ensacar as molas), chegam a 130%.
Rogério Coelho, presidente da Abicol |
Para o presidente da Abicol, Rogério Coelho, essa situação é mundial e está diretamente ligada à lei da oferta e consumo. “Enquanto o mercado suportar os preços praticados nos insumos e matérias-primas eles vão se manter altos. A estabilidade só vai acontecer quando deixarmos de comprar e os estoques aumentarem”, esclarece, acrescentando que a escassez ainda é um problema no setor. A falta de TDI e Poliol foi abordada pela revista Móveis de Valor na edição de maio – quando o setor ensaiava a retomada –, e agora, início de outubro, o presidente da Abicol afirma que “o movimento para regularização na oferta de TDI está se consolidando, mas a oferta de Poliol ainda é instável”.
Preços internacionais do TDI
De acordo com os dados da lista da SunSirs, empresa de acompanhamento de preços de commodities na Ásia, o preço médio do TDI no leste da China no dia 15 de setembro foi de 17.833,33 RMB (Remimbi, moeda oficial da China) por tonelada, ou seja, R$ 14.445 pelo câmbio do mesmo dia.
Para efeito de comparação, ainda de acordo com os dados de monitoramento da SunSirs, “o preço de mercado do TDI apresentava uma tendência constante de queda em abril. O preço médio de mercado no leste da China, no dia 8 de abril, foi de 9.933,33 RMB por tonelada”, ou R$ 8.046 pelo câmbio oficial daquele dia.
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Tonéis de TDI |
Portanto, se observa que a retomada do consumo mundial após o período mais crítico do coronavírus, levou as poucas empresas fornecedoras de TDI no mundo, entre elas BASF, Covestro e Dow, a aumentar constantemente o preço do TDI. Em cinco meses, a alta do preço médio chega a 79,5% no mercado.
Sobre este assunto, contatamos a Dow no Brasil que, através da assessoria de imprensa, deu a seguinte resposta aos nossos questionamentos: “Agradecemos o contato e a oportunidade, mas infelizmente a Dow não participará da pauta”.
Preço do aço também dispara
Aço usado para a fabricação de molas |
A indústria brasileira que trabalha com aço, caso dos fabricantes de molejos para colchões e as que produzem móveis de aço, está refém das maiores siderúrgicas que operam no Brasil e que atendem a este mercado: Usiminas, Arcellor Mittal, CSN e Gerdau.
Desde o mês de abril, no auge da pandemia, quando as empresas já lutavam para sobreviver, os aumentos passaram a ser sucessivos. Até setembro, a alta chegou a 40%, com promessa de mais 15% para o mês de outubro. Isso apenas nas siderúrgicas, porque nos distribuidores, esse aumento é ainda maior.
A questão é que eventuais importações não resolverão o problema, porque o dólar está trazendo a diferença do preço do aço produzido aqui e o importado para perto de zero, devido à valorização cambial.
Molas ensacadas
Reflexos no preço e oferta de molejos
Ouvimos os três principais fabricantes de molejos do Brasil para entender como está o abastecimento da cadeia. Gustavo Lemos, presidente para América do Sul da Leggett & Platt do Brasil, lamenta os aumentos, mas especialmente a falta do produto. “Tivemos uma redução considerável no volume de aço longo negociado normalmente com nossos fornecedores. E o mais grave é que não recebermos informações antecipadas sobre o não cumprimento das entregas”, afirma, lembrando que trabalha com a hipótese de mais redução durante o mês de outubro.
As razões da restrição por parte das siderúrgicas, na opinião de Lemos, são a paralização de fornos no auge da pandemia e o aquecimento de setores, como construção civil e automobilístico.
Em contrapartida, a Leggett está se desdobrando para atender a indústria colchoeira. “Estamos nos baseando no histórico de compras e dando preferência aos parceiros”, enfatiza, acrescentando que acredita na estabilização da oferta de aço no mês de novembro.
E o quadro de incertezas sobre o abastecimento de aço e os constantes reajustes tem feito algumas empresas de molejo trabalhar com preço de venda em aberto. Antonio Sereni, diretor da Alpha Motion do Brasil, destaca que está difícil trabalhar com tantos reajustes no aço longo com alto teor de carbono (usado na produção das molas). “Os reajustes no aço, no TNT e em outros insumos, tem impactado diretamente no preço de venda do produto para a indústria colchoeira”, afirma Sereni, que também tem feito de tudo para não deixar nenhum parceiro sem produto. “A questão é que estamos recebendo pedidos futuros com preço em aberto, afinal não temos como prever de quanto será o próximo reajuste”, finaliza, lembrando que esta é uma situação sem precedentes no setor.
Na Starsprings, o problema começou na segunda quinzena de março, quando os pedidos começaram a ser cancelados e a situação se agravou em abril, com a empresa fechada durante 20 dias. Neste período as vendas se restringiram ao que havia no estoque, que acabou reduzido a 25% da média usual. “O movimento mais significativo ocorreu no começo de junho”, lembra Bernardino de Sena, diretor executivo da empresa. Mas a velocidade de retomada da produção estava condicionada à oferta de matérias-primas e insumos, caso do aço e TNT que, por acaso, apresentaram maior escassez, não só no mercado nacional, mas em todo o mundo. Assim, importar não era uma opção, “mas temos boas parcerias com fornecedores de TNT e alcançamos a estabilidade na oferta”, observa De Sena, acrescentando que as dificuldades com aço foram grandes e a oferta ainda não está normalizada. “A composição do aço para molejos é específica, então, mesmo que esteja sobrando aço plano, em razão da baixa produção de veículos, por exemplo, não é possível redirecionar este ano para a indústria de molas”, explica o diretor da Starsprings. Apesar deste quadro, De Sena destaca que a Starsprings está conseguindo acompanhar o crescimento da produção dos clientes firmes. Por sinal, o diretor destaca que o cliente é um dos dois compromissos da Starsprings. O outro é o acionista. “A empresa que gera lucro tem melhores condições de oferecer vantagens aos clientes, através de produtos e serviços mais eficientes”, afirma.
De Sena acredita que o nível de demanda está estabilizado e vai permanecer assim até dezembro, embora tenha muitos clientes com pedidos confirmados até março. “Não vejo queda significativa na demanda do mercado no futuro próximo”, conclui o diretor executivo da Starsprings.
Gustavo Lemos, presidente para América do Sul da Leggett & Platt do Brasil |
Antonio Sereni, diretor da Alpha Motion do Brasil |
Bernardino de Sena, diretor executivo da Starsprings |
Outros insumos seguem o mesmo caminho
Segundo o presidente da Abicol, na esteira dos grandes fornecedores, toda a cadeia de abastecimento do setor colchoeiro vem aplicando reajustes. “É algo nunca visto no setor”, lamenta Rogério Coelho, acrescentando que os tecidos tiveram reajustes na faixa de 10%, motivados pela pressão nos preços do algodão. “Independentemente do setor da indústria ou das circunstâncias específicas da empresa, os aumentos dos preços das matérias-primas são uma realidade assustadora”, enfatiza.
Para Rogério Coelho, é óbvio que vários fornecedores estão aproveitando o momento para recuperar margens. Mas, não visão do presidente da Abicol, esta é uma política perigosa, pois não se pode afirmar que o consumo atual se sustenta no médio prazo. “Se isso ocorrer, teremos o pior dos mundos, com preços altíssimos e baixa demanda”, projeta.
Para ele, um mercado volátil e instável tem implicações generalizadas para as indústrias, com obstáculos imprevistos. “A disparada nos níveis de preços das matérias-primas desestabiliza as cadeias de abastecimento e cria um cenário muito difícil para as indústrias se manterem no azul”, destaca. E acrescenta: “com restrição no fornecimento de muitas matérias-primas, a volatilidade dos preços pode não ser apenas um fenômeno temporário. E cabe aos fabricantes a difícil tarefa de absorver custos adicionais e encontrar novas maneiras de mitigar as despesas”, pontua.
Porém, Rogério Coelho destaca que a ABICOL continua atenta às oportunidades de atuação institucional, como por exemplo a revisão de tarifas para importação de produtos indispensáveis para o setor colchoeiro e no encaminhamento de providências contra condutas nocivas à livre concorrência.
Por fim, o presidente da entidade se mostra otimista, afirmando que “dias melhores virão”.
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