Juros futuros recuam com resultado do varejo
Os juros futuros registraram firme queda nesta quinta-feira (12), enquanto os agentes financeiros vislumbram períodos mais longos de taxas baixas de juros em um contexto de queda da meta inflacionária.
Poucos dias após mais uma surpresa com a inflação, foi a vez do resultado do volume de vendas no varejo de fevereiro mostrar um ambiente propício para estímulo monetário. De acordo com informações divulgas pelo IBGE, o comércio ficou no negativo no segundo mês do ano, contrariando as expectativas do mercado.
Alguns analistas de mercado consideraram o resultado de vendas no varejo “péssimo” e dessa maneira avaliam que o mercado já vislumbra a possibilidade de ciclo mais longo de juros baixos e possibilidade menor de altas futuramente.
Metas de inflação
A conjuntura econômica dá suporte à expectativa de queda nas metas de inflação. O debate foi estimulado ainda por matéria do jornal "O Globo", que aponta como certa a decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN) de derrubar o alvo de 2021 para 3,75% ao ano.
Em resposta à matéria, o Banco Central (BC) negou a informação de que já houve uma definição e reiterou que a nova meta só sai na reunião do CMN, em 26 de junho. Ainda assim, o mercado já vem trabalhando com o cenário de queda gradual das metas. No ano passado, já foi definido que a meta de inflação sai do nível atual de 4,50% em 2018 para 4,25% em 2019 e 4,00% em 2020.
De acordo com o economista-chefe da gestora de recursos Garde, Daniel Weeks, em declaração publicada pelo Valor Econômico, “a percepção é a de que vamos ver uma 'escadinha' na meta de inflação até aproximadamente 3%, que ficaria em linha com emergentes mais sérios”. México, Colômbia e China, por exemplo, têm a meta centrada em 3%.
Selic
Caso essa trajetória da meta de inflação confirme, a leitura é de que a Selic não precisará subir tanto no futuro, ficando em níveis mais contidos por mais tempo. Isso porque as metas mais ousadas, em um contexto de BC com credibilidade, tendem a afetar positivamente as expectativas, o que ajudaria a conter a própria inflação e limitar a necessidade de juros mais altos.
No meio do caminho, entretanto, há a incerteza política e a necessidade de ajustes econômicos. O que deve mostrar se o alvo é ambicioso demais é a situação fiscal, que depende dos esforços de um futuro governo para ajustar as contas públicas.
A atual direção da política econômica abre espaço para queda na meta de inflação, que se torna um cenário crível, mas não isento de riscos. Na avaliação de economistas, o BC venceu uma batalha importante para ancorar expectativas de inflação, mas o que define a inflação é a situação fiscal. "Não é por causa de 0,25 que vamos ter um cenário totalmente diferente. Se der errado, até os 4% ficam ambiciosos", afirmou a economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif.
Em um cenário benigno, avalia a economista, o novo governo deve mostrar que possui uma agenda forte, mesmo que não seja fácil para aplicá-la. Neste caso, dadas as condições econômicas, o BC vai conseguir manter a Selic em território expansionista por um "bocado de tempo". E quando for o momento de subir juros, será menor que o esperado.
No entanto, até a reunião do CMN em junho, não se deve ter tanta clareza. Com isso, a queda da meta de inflação pode ter cunho simbólico. "A redução da meta -- de 4% para 3,75% -- reafirma a confiança de que as reformas serão feitas, tem um simbolismo muito grande", finaliza a profissional da XP Investimentos.
(Com informações de Valor Econômico)
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