Por que moveleiras não tem reconhecimento de marcas
Desde que resolvi encaminhar minha carreira profissional no setor moveleiro, há mais ou menos 40 anos, uma coisa insiste em permanecer na minha cabeça: por que, mesmo algumas marcas de móveis com grande visibilidade, saíram do mercado sem deixar um legado? Uma contribuição para que as próximas gerações tivessem um norte, um caminho para serem necessárias às pessoas.
Me considero um bom observador do ramo moveleiro e das marcas que compõem este segmento econômico. Conheço e pesquiso muito sobre as razões que levaram determinadas marcas a desaparecerem do mercado, apesar da representatividade que tinham. Posso elencar diversos com atuação em âmbito nacional e tinham reconhecimento em seus segmentos. Barzenski e Trorion, no Rio Grande do Sul; Cimo, em Santa Catarina; Oggi, no Paraná; Forma e Bergamo, em São Paulo; Gelli, no Rio de Janeiro e Movelar, no Espírito Santo... Mas o reconhecimento não foi suficiente para mantê-las em funcionamento, nem mesmo tiveram uma sobrevida quando algumas marcas foram adquiridas por outras mais tarde, tentando resgatar o legado que não sobreviveu.
Acredito que, a partir da chegada da indústria de produção em série, pelas mãos de ex-marceneiros, o único objetivo era fazer mais do que estava vendendo, seguindo sugestões de compradores de grandes redes de lojas, multiplicando eventuais inovações até o esgotamento. E desde o começo... lá se vão mais de 60 anos.
Ao longo do tempo as indústrias foram se distanciando das pessoas, perdendo prioridade nas compras por apresentar poucas novidades e, as que apareciam, estavam distantes dos anseios dos consumidores. Foi assim que se passou a substituir móveis apenas por necessidade, priorizando outros itens de bens duráveis (que hoje poderiam ser chamados de bens desejáveis), e essa tendência que se acentua ainda hoje.
Quer um exemplo? Há menos de 30 anos o brasileiro gastava 5% de sua renda para comprar móveis. Hoje apenas 1,5% das suas despesas são voltadas para mobiliar a casa. Não surpreende, portanto, as pressões de oferta e o achatamento das margens. Lucro passou a ser quase proibido falar dele.
Daniela Cachich, da Ambev, costuma dizer que “podemos usar o poder e o privilégio das marcas para impactar positivamente a vida das pessoas. Se as marcas não fazem algo que seja relevante para a sociedade, dificilmente elas serão relevantes”.
Cá entre nós: Eu acrescentaria que para deixar um legado é preciso estar na mente das pessoas quando elas pensam em obter algum tipo de satisfação consumindo. Que possam exclamar: olha o que eu comprei, ao invés de dizer “veja o que me venderam”. Mas, infelizmente, ainda não estamos trilhando o mesmo caminho do consumidor, para descobrir o que devemos fazer para impactar positivamente a vida das pessoas dentro de casa. Assim, por não sermos relevantes, móveis é o primeiro bem durável a ser cortado das compras e quase o último na lista das prioridades.
Comentários