Por que o setor moveleiro não tem um varejo pra chamar de seu?
Com as coleções outono-inverno e primavera-verão, indústrias e lojistas de moda ganham dinheiro todos os anos. Para o setor moveleiro sobram as liquidações, porque não tem um varejo pra chamar de seu.
Qual o melhor período para compra de roupas e calçados. Durante as estações do ano, principalmente verão e inverno, com as coleções outono-inverno e primavera-verão, correto?
Logo, estes são os momentos em que fabricantes e lojistas ganham direito com vendas saudáveis, deixando apenas o que sobra no estoque para as liquidações de final de temporada. Estou certo?
Depois de concordar com isso, vamos voltar no tempo, quando existia no Brasil uma grande feira de móveis em São Paulo, lançada em 1976, para ser a vitrine dos móveis no País. E foi. Por muitos anos, período de lançar coleções era próximo a realização da Fenavem. E o comércio se preparava para as vendas do quarto trimestre do ano, preparação das casas para as festas de final de ano, portanto, tempo para comprar e trocar os móveis. E foi assim que a indústria e o varejo de móveis seguiram nas décadas seguintes, apesar das crises econômicas pelas quais o País atravessou. E as indústrias e o varejo de móveis, bem ou mal administrados, ganhavam dinheiro. Bons tempos. Eu estava lá e vi isso acontecer.
E, em time que ganha não se mexe – normalmente porque ninguém sabe por que está ganhando – então mexer pode estragar. Deixa tudo como está pra ver como fica.
A deficiência histórica do varejo de móveis nunca foi resolvida, lojista não treinava os vendedores e a indústria entendia que isso não era problema seu. A indústria de planejados acreditou que resolveria o problema desenvolvendo lojas exclusivas, capitaneadas por um software que criava projetos... Mas esqueceu de combinar com os marceneiros, que de possíveis parceiros viraram concorrentes de peso, apoiados por dezenas de revendas para marcenaria.
Você percebe que em tudo tem um pouco do “deixa que eu resolvo”?
Chegou a internet e com ela as vendas online, as startups, teoricamente com menos custos operacionais, prontas para dar um tombo no varejo físico. Este, por sua vez, abriu o leque de produtos e passou a vender seguro, viagens e virou um mercado chinês. Móveis era apenas um item entre centenas, as vezes milhares.
A pandemia veio e foi embora, deixando um rastro de destruição, principalmente nas famílias.
Mudou o governo e o barco segue seu curso, que é não ter um curso, pelo menos não que se saiba para onde vamos.
Então, o calendário da venda de móveis é quando chega a Black Friday, as liquidações de janeiro, as promoções com 50% de desconto das startups...
Não existem no nosso calendário estações do ano, apenas datas de liquidação. O setor não tem um varejo pra chamar de seu, para venda saudável, para encantar clientes, mudar a cara das casas, o humor das pessoas com o seu habitat. Nada.
Alguém quer discutir o fim deste ciclo que já se arrastou demais? Estamos esperando...
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