Móveis atraem R$ 3 bi este ano e entram no radar do investidor
Isolamento social leva a aumento da demanda, e prazos de entrega já chegam a três meses. Preços das matérias-primas sobem e pressionam produção.
Resilientes na pandemia, as empresas que vendem móveis e produtos para o lar entraram na mira dos investidores. Só este ano, três empresas do setor receberam aportes que somam quase R$ 3 bilhões.
Esse movimento é resultado da adoção em larga escala do home office, que fez as pessoas trocarem o gasto com serviços pelo consumo de itens para deixar a casa mais confortável. Mas há um efeito colateral: com as linhas de produção mais lentas por conta dos protocolos de segurança contra a Covid-19, o prazo de entrega pode chegar a três meses.
Na Bolsa de Valores, Mobly e Westwing levantaram quase 2 bilhões com lançamento de ações neste ano. A MadeiraMadeira recebeu mais um aporte de US$ 190 milhões (mais de R$ 1 bilhão) em investimentos.
Salto nas vendas online
Segundo Guilherme Stuart, da RGS Partners, o setor de vendas de móveis é próspero e se beneficia hoje de uma grande liquidez no mercado de ações, decorrente dos juros baixos. Como há poucas empresas listadas na Bolsa brasileira, as novatas tendem a receber aportes vistosos. E, com o abre e fecha das lojas físicas, os negócios online prosperaram. Na MadeiraMadeira, as vendas saltaram 120% no ano passado. A Mobly reportou alta de 42% em relação a 2019.
No terceiro trimestre de 2020, a Westwing registrou 728 mil visitantes únicos por mês. Na Tok&Stok, que deve chegar ao pregão no médio prazo, as vendas online já representam 20% do total.
“Esse mercado está apenas começando”, diz Daniel Scandian, um dos sócios da MadeiraMadeira.
Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial, observa que em maio, junho e julho de 2020 o setor já crescia a uma taxa de dois dígitos, mostrando recuperação em plena crise. Em janeiro deste ano, o crescimento foi de 7,4% na comparação anual.
“Com o aumento da demanda, menos funcionários nas linhas de produção e turnos mais curtos, criou-se um gargalo na entrega” acredita Cagnin, citando a adoção de protocolos sanitários para evitar a transmissão da Covid-19.
Um estudo do Itaú, a partir de compras com cartão de crédito e débito, mostra que o valor gasto com móveis para o home office cresceu 39% no ano passado.
“A casa deixou de ser um ambiente de passagem para ser um local de permanência. Isso aumentou a aquisição e renovação de mobiliário”, afirma Raphael Tristão, presidente da Archademy, plataforma de inteligência para o mercado de arquitetura e design de interiores de São Paulo.
Estimativas da Móveis de Valor, baseadas em dados do IBGE, mostram que a venda de mobiliário movimentou R$ 62 bilhões no ano passado, quase o mesmo valor de 2019, enquanto o setor de serviços caiu quase 8%. Este ano, a projeção é que o setor movimente R$ 65,2 bilhões.
Pelo lado do consumidor, a espera pelo móvel novo pode chegar a três meses. O curador Eder Chiodetto comprou camas e sofás em uma loja paulista em novembro de 2020. Os produtos só chegaram em fevereiro deste ano: “A justificativa para o atraso foi que a fábrica que faz o sofá estava sem insumos por conta da pandemia”. De mudança de São Paulo para o Rio de Janeiro, a jornalista carioca Luiza Souto começou a comprar móveis em fevereiro no site da Mobly, mas só vai receber em maio: “Nunca imaginei que demoraria tanto tempo”.
Reajuste de matéria-prima
As empresas reconhecem que os prazos de entrega se estenderam. O site da Mobly dá previsões de até 42 dias úteis. A Tok&Stok informou que está reformulando seu sistema de operação e logística, além de abrir um novo centro de distribuição em Minas Gerais, em busca de reduzir os prazos de entrega.
A MadeiraMadeira informou que, além dos prazos maiores, houve aumentos entre 25% e 30% no preço de matérias-primas, como aço, chapas e caixas de papelão. “Temos optado pelo ganho de escala para não aumentar preços”, diz Scandian.
E, mesmo com o salto do e-commerce, as empresas continuam apostando nas lojas físicas para ampliar vendas e reforçar a marca. A MadeiraMadeira já tem 14 unidades em São Paulo e duas no Paraná, onde nasceu. A Mobly tem 11 lojas físicas, incluindo outlets. E a Westwing, em 2020, teve dois quiosques temporários em shoppings de São Paulo.
Mas, apesar do extraordinário movimento verificado nas vendas de e-commerce desde o início da pandemia, ainda há muito espaço a ser conquistado quando se observa que até agora o volume de móveis residenciais comercializados pelo e-commerce atinge menos de 10% do total vendido no País.
(Com informações de O Globo e edição da Móveis de Valor)
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