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Móveis chegam ao Paraguai depois de 140 anos

Por Edson Rodrigues - 30 de Junho 2014
Um conjunto de móveis que o ex-presidente paraguaio, Francisco Solano López, encomendou na Alemanha chegou a seu destino nesta sexta-feira (27), mais de 140 anos depois, enviado pela Argentina, cuja alfândega o confiscou durante a Guerra do Paraguai (1864-1870).

Trata-se de 20 peças, entre cadeiras, poltronas, mesas e outras peças de estilo neogótico em madeira talhada.
"Isto tem um forte significado, de reparação em certo modo, mas os danos pela guerra, que teve um impacto territorial e humano, não se paliam com este gesto", disse à Agência Efe a secretária nacional de Cultura, Mabel Causarano, que recebeu no aeroporto o avião militar argentino que levou a mobília.

As peças eram um dos espólios da guerra cuja devolução era reivindicada pelo Paraguai, para o qual o conflito contra Argentina, Uruguai e Brasil representou uma catástrofe nacional.
O país perdeu cerca de metade da população, ficando uma relação de quatro mulheres para cada homem, segundo os cálculos mais aceitos pelos historiadores.

Francisco Solano López (1827-1870), que precipitou a guerra ao abrir hostilidades contra o Brasil em 1864 em reação à entrada de tropas do Império no Uruguai, morreu em combate na batalha de Cerro Corá, o último enfrentamento do conflito.
Os móveis que ele encomendou, aparentemente na Alemanha pelas inscrições em alguns deles, chegaram uma vez começada a disputa a Buenos Aires, que naquela época era a via de entrada de tudo ao Paraguai, pois dependia totalmente do transporte fluvial.

A alfândega argentina os confiscou, de modo que nunca chegaram ao Palácio de López, o edifício de estilo neoclássico com vista para a baía de Assunção que Solano López concebeu para sua residência, mas que não viu terminado.
Durante a guerra, forças brasileiras o bombardearam e saquearam, e o local ficou em estado de abandono até finais do século XIX, quando foi restaurado.
Como fez com a Argentina em relação aos móveis, sucessivos governos paraguaios reivindicaram ao Brasil a devolução do canhão cristão, chamado assim porque foi forjado com os sinos de igrejas, e que atualmente está no Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro.

As autoridades paraguaias também pediram o retorno dos arquivos militares da Guerra, sob os cuidados de Brasília.
Ao contrário do Brasil, a presidente argentina, Cristina Kirchner, aceitou a reivindicação paraguaia e prometeu em setembro do ano passado ao presidente paraguaio, Horacio Cartes, que seu país devolveria os móveis.

A entrega oficial vai acontecer no dia 3 de julho no Palácio de López, durante uma visita da governante argentina a Assunção.

Em seguida serão exibidos no Arquivo Nacional durante uma semana ou dez dias, para posteriormente serem armazenados até que se complete a restauração do ala oeste da sede presidencial, para o que não há data, segundo Causarano.
Essa área do palácio, que é um dos maiores atrativos de Assunção, está invadida pelos cupins, que danificaram a estrutura de madeira, segundo disse à Efe Gustavo Glavinich, arquiteto do Ministério de Obras Públicas e Comunicações.

Causarano destacou que os móveis estão em muito bom estado de conservação e disse que seu valor econômico será determinado uma vez que se conheça o preço pelo qual estavam assegurados.

A Alfândega argentina as vendeu em um leilão a Anarcasis Lanús, que foi membro do Congresso Nacional argentino, após o que passaram a mãos de seu filho, Juan Lanús, e deste a seu neto, Roberto Lanús, segundo a Secretaria de Cultura paraguaia.

Em 1985 a família doou as peças ao Museu Histórico Provincial Martiniano Leguizamón da província de Entre Ríos, no nordeste da Argentina, onde se encontravam até agora.

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