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Moveleiros querem centro tecnológico em Marco (CE)

Por Edson Rodrigues - 09 de Abril 2012
Os representantes do polo moveleiro de Marco (CE), a 234 quilômetros de Fortaleza, apresentaram no último dia 21 de março uma reivindicação para que seja instalado um centro tecnológico na região. 

O documento foi apresentado durante uma visita realizada por comitiva composta de membros da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC), Agência de Desenvolvimento do Ceará (Adece), Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Embrapa Agroindústria Tropical (Embrapa) e de empresários do setor de serraria e mobiliário.

De acordo com o presidente do Sindmóveis, Júnior Osterno, a necessidade da instalação do centro tecnológico é uma reivindicação antiga, mas agora se mostra mais viável por causa do trabalho desenvolvido pela Embrapa. "O polo moveleiro de Marco cresceu, ganhou nome fora do Ceará, e os nossos produtos são vendidos em todo o país. Mas isso implica maior atenção para que a qualidade dos produtos e o respeito conquistado continuem mantidos."

O município de Marco abrange 28 empresas, e gera 1 700 empregos diretos e 5 100 indiretos. 

O encontro marcou a apresentação pela Embrapa do projeto de cultivo de 38 espécies de plantas arbóreas e de mais seis clones de híbridos de eucalipto para abastecer, no futuro, as indústrias de móveis e madeireiras da região norte do estado. Nesse projeto, a FIEC apoiou, por meio do Instituto de Desenvolvimento Industrial (INDI), a ideia trazida pelo Sindicato das Indústrias do Mobiliário do Ceará (Sindmóveis). Além da visita de campo à área na qual estão se desenvolvendo as pesquisas, em terreno localizado no perímetro irrigado do Baixo Acaraú, a comitiva visitou algumas fábricas de Marco.

Osterno, que é proprietário da única fábrica do município que exporta, explica que na primeira gestão do governador Cid Gomes se chegou a esboçar a elaboração de um plano, que não evoluiu. A ideia era instalar um centro tecnológico nos mesmos moldes da estrutura existente na região do Cariri, lá voltado para a indústria calçadista. Hoje, toda a iniciativa de apoio à qualificação da mão de obra e de empresários é desenvolvida pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI/CE), entidade componente do Sistema FIEC, e Sebrae. Com o centro, acrescenta Osterno, a intenção é reunir em Marco empresas e espaços para treinamento e apresentação de produtos. Segundo o presidente dos Fabricantes Associados de Marco (Fama), Leonardo Aguiar, o setor necessita de cursos técnicos nas áreas de desenho industrial, metrologia, manutenção, lubrificação de máquinas e de design. Na área de gestão, a demanda é por capacitação em liderança, motivação e vendas.

Segundo o presidente da FIEC, Roberto Proença de Macêdo, que fez parte da comitiva, o polo moveleiro de Marco mostra que o cearense é capaz de práticas bem sucedidas, mesmo diante de adversidades. Ele elogiou os empreendedores da região pela capacidade de criar alternativas e transformá-las em vocação. Mas, diante dos desafios impostos pela competitividade de mercado, nenhum setor deve se achar livre de riscos, por mais consolidado que esteja. Por isso Roberto Macêdo acha importante que os empresários reivindiquem projetos como o do centro tecnológico.

O presidente da Adece, Roberto Smith, acompanhado do presidente do Conselho de Administração do órgão, Ivan Bezerra, fez questão de ressaltar que o projeto desenvolvido pela Embrapa, em parceria com o setor moveleiro, mostra os empresários pensando no futuro, e não acomodados. Lembrou ainda que o projeto desenvolvido no perímetro irrigado do Baixo Acaraú é um exemplo de como a área pode ser bem aproveitada. “Os problemas de dívidas de ocupantes dos terrenos da área precisam ser solucionados pela Sudene e Ministério da Integração Nacional, a fim de que outros projetos no perímetro possam ser efetuados.”

O diretor técnico do Sebrae, Alci Porto, reforçou a necessidade de criação do centro tecnológico em Marco. Disse que tanto o órgão como a Adece deverão se debruçar sobre o projeto e admitiu que as empresas do polo precisam avançar tecnologicamente em diversas áreas, como o projeto desenvolvido pela Embrapa. Segundo ele, a capacitação dos empreendedores e operários do Arranjo Produtivo Local (APL) de móveis do município sempre foi uma preocupação do Sebrae por meio da capacitação periódica em cursos técnicos.

Nesse aspecto, o gestor estadual de projetos setoriais do Sebrae, Lúcio Gurgel, informou que o órgão investirá 250 000 reais, somente este ano, em consultoria para o polo moveleiro. “Isso corresponde a 4 500 horas de consultoria somente para os empresários locais. Vamos focar no processo produtivo, de aperfeiçoamento da mão de obra e no desenvolvimento de novos produtos.”


Alternativa para matéria-prima

O projeto Teste e seleção de espécies arbóreas para a indústria do polo moveleiro de Marco pode ser, em longo prazo, uma alternativa para as dificuldades logísticas de produção de móveis no município de Marco. Isso porque grande parte da madeira que chega para a produção de móveis nas 28 indústrias vem do Pará, Rio Grande do Sul e Espírito Santo, sendo o custo e o transporte dessa matéria-prima os principais gargalos para a sustentabilidade da produção. Com um consumo de mil metros cúbicos de madeira por mês, os produtores de Marco, numa visão de futuro, buscam uma forma de dar sustentabilidade à produção, que é sua principal atividade econômica.

Foi daí que surgiu o projeto da Embrapa Agroindústria Tropical, no Ceará, e a Embrapa Florestas, no Paraná, que assumiram o desafio de testar e selecionar espécies de árvores produtoras de madeira em terreno na área de irrigação do Departamento Nacional de Obras contra as Secas (Dnocs), na zona rural. Há três anos o projeto vem sendo desenvolvido, financiado pelo Banco do Nordeste (BNB) e Adece, com o apoio do Sindmóveis, Dnocs, FIEC/INDI e da Fabricantes Associados de Marco (Fama).

Pioneiro no segmento florestal, o projeto deve durar de três a quatro anos e vai analisar quais as espécies com perspectivas de maior produtividade e melhor qualidade da matéria-prima para a indústria do polo moveleiro. O anúncio da instalação do experimento foi em outubro de 2010 e a primeira fase será finalizada em outubro de 2013. Durante a primeira fase do estudo, além da instalação e condução (que é específica para cada espécie), estão sendo realizadas avaliações de seis em seis meses.


SERVIÇO: Mais informações sobre o projeto podem ser acessadas no link da Revista da FIEC da edição de fevereiro: http://www.fiec.org.br/portalv2/sites/revista/home.php?st=interna1&conteudo_id=51963&start_date=2012-03-07


Sindserrarias aliado ao projeto

A visita ao projeto desenvolvido pela Embrapa no perímetro irrigado do Baixo Acaraú levou ao município de Marco vários representantes do setor de serrarias interessados especificamente nos resultados do trabalho de pesquisa. Conforme o presidente do Sindicato da Indústria de Serrarias do Estado do Ceará (Sindserrarias), Agostinho Carneiro de Alcântara, o piloto desenvolvido pela Embrapa na região desperta a atenção de toda a cadeia industrial madeireira do Ceará, e não apenas do polo moveleiro de Marco. Ele explica que há no estado 125 indústrias madeireiras que fabricam vários produtos em madeira, exceto móveis.

Para Agostinho, o problema é que essa matéria-prima é 100% trazida de fora do estado, sobretudo do Pará e de Rondônia, encarecendo por conta do frete e de outros eventos que interferem diretamente na produção do setor. “O Sindserrarias pretende se juntar ao projeto nas duas últimas etapas – seleção das espécies mais resistentes e economicamente rentáveis e na de produção em escala.” 

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