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Ninguém acreditava na política econômica do governo, mas...

Por Ari Bruno Lorandi - 17 de Julho 2023

Após reverter desconfiança inicial do mercado, equipe econômica conquista vitórias com queda da inflação, aprovação do arcabouço e da reforma tributária. Mas há riscos no caminho

 

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva fechou o primeiro semestre com boas notícias na área macroeconômica, que reverteram a expectativa do mercado no início do ano, em especial quanto ao compromisso da equipe econômica em buscar o equilíbrio fiscal e o controle da inflação para permitir a queda da taxa de juros. 

 

Para economistas consultados pelo NeoFeed, diante das boas notícias, o desafio do governo federal para o segundo semestre se resume a duas pendências: a continuidade da queda da inflação, o que deve facilitar a tarefa do Copom de dar início ao ciclo de queda de juros, e a obtenção da meta do resultado fiscal estimado para 2023 (déficit de 1% do PIB), o que acalmaria o temor inicial do mercado quanto à condução da política econômica do governo. 

 

A divulgação na segunda-feira, 10 de julho, do boletim Focus, que reflete as previsões a médio e longo prazo do mercado financeiro, deu razão ao otimismo governista. A estimativa de inflação medida pelo IPCA para este ano caiu pela oitava semana seguida, de 4,98% para 4,95%. Já a projeção para o crescimento do PIB de 2023 foi mantida em 2,19%, bem acima do que era previsto no início do ano, na faixa de 1%.

 

Mas foi a projeção do Focus para o resultado primário em 2023 que chamou a atenção – saindo de um déficit de -1,02% do PIB para -1% do PIB, exatamente o que prometeu o governo. 

 

Para o economista Mauro Rochling, professor da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro, a queda da inflação seguida de redução de juros deve marcar os resultados macroeconômicos do governo até o final do ano. 

 

“As previsões de redução de inflação estão melhorando semana a semana, o que aumenta as chances de que a meta fiscal seja alcançada em 2023”, diz Rochlin. 

 

De acordo com o acadêmico da FGV, portanto, a partir de julho o País deve conviver com índices baixos mensais de inflação e índices mais elevados no acumulado de 12 meses – o que, segundo ele, já está precificado pelo mercado. 

 

“Se essa deflação no atacado se reproduzir em números melhores no varejo, como no IPCA, o Banco Central vai ser obrigado a adotar uma política mais generosa para o corte de juros, com quedas maiores que o esperado pelo mercado até dezembro, que é de 12%”, prevê. 

 

Rochlin, no entanto, adverte para um risco que pode alterar o ritmo da queda da Selic pelo BC: o movimento das taxas de juros dos Estados Unidos. 

 

“Se o Federal Reserve (banco central dos EUA) aumentar os juros duas vezes, como vem sinalizando, pode ser um freio para o BC reduzir da Selic aqui, pois isso pode representar uma pressão para o câmbio”, afirma o economista. 

 

De resto, nos outros fatores que podem atrapalhar os planos do governo, Rochlin acredita que o maior risco – uma mexida no arcabouço fiscal, abrindo mais frentes de despesas do governo – dificilmente vai ocorrer.

 

“O Congresso Nacional é mais conservador que o governo, acho difícil abrir mais exceções ao limite de gastos do que consta no projeto de lei do arcabouço em tramitação”, diz o acadêmico. 

 

Redução de desconfiança 

 

Para Rafael Rondinelli, economista do Banco Modal, o mérito do governo federal até aqui foi reduzir as desconfianças do mercado financeiro. 

 

Ele cita o arcabouço fiscal como exemplo. “Não temos perspectiva de explosão das contas públicas, a chamada relação dívida/PIB, nem no curto nem no longo prazo”, disse. 

 

Para Rondinelli, embora o arcabouço tenha reduzido esse risco, não é suficiente para ter um superávit primário estrutural positivo, algo que, segundo ele, o Brasil não consegue entregar há duas décadas. 

 

“Mas não deixa de ser uma direção melhor do que inicialmente esperado”, diz, afirmando que também vê o cenário de juros nos EUA como principal ameaça à queda da Selic por aqui.

 

Ele reconhece, no entanto, que a aprovação do Carf é importante para ajudar no resultado fiscal. Mas, segundo ele, a equipe econômica exagera na expectativa de arrecadação, de R$ 50 bilhões este ano e R$ 100 bilhões em 2024. 

 

“O mercado acha essas estimativas otimistas, este ano a arrecadação do Carf não deve passar de R$ 30 bilhões, mas é uma vitória do governo”, emenda. 

 

De acordo com o economista do Modal, se o Brasil não está numa situação ruim, como inicialmente esperado, tampouco está numa situação boa quanto o governo projeta, embora ressalte as vitórias contra a inflação, juros e ajuste no déficit público. 

 

“O governo mostrou capacidade política satisfatória, em especial na figura do ministro Fernando Haddad, reduzindo as diferenças de percepção do que o governo espera e o que o mercado acha, trazendo mais estabilidade nessa percepção e mantendo um caminho longe de ser catastrófico, como era inicialmente esperado”, diz Rondinelli.

 

(com informações neofeed.com.br)

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