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O que significa uma startup de móveis vender produtos usados?

Por Edson Rodrigues - 29 de Junho 2021

Já tratamos aqui sobre a relação desequilibrada entre startups e indústrias de móveis. Observamos na ocasião que startups são negócios, tocados à custa de aportes de recursos que visam retorno deste investimento via abertura do capital. Normalmente alavancados, são agressivos em preços porque importa mais aumentar as vendas do que gerar lucro, pelo menos até atingir o ponto ideal para uma IPO e pagar os investidores. E, via de regra, inflam os números para atrair acionistas dispostos a pagar mais do que realmente valem as ações. Isso fica evidente nos dias que se seguem ao IPO quando as ações normalmente desabam.

Depois precisam garantir retorno aos acionistas e a pressão por menores preços de parte dos fornecedores vai persistir, isto é, a relação vai continuar desequilibrada. Das três principais que operam com móveis e decoração, duas já realizaram abertura de capital e a terceira espera um momento melhor para fazê-lo, com certeza.

Na esteira do que comentamos acima, em março do ano passado a Mobly anunciou parceria com a uruguaia nocnoc para vender produtos importados, principalmente vindos da China. Começaram com 100 itens mas, segundo a empresa, seriam milhares até o final de 2020. O projeto não decolou, talvez em função da pandemia, e hoje não se vê mais o logotipo da “Mobly Internacional” no site da Mobly.

Mas outro projeto preocupante para os moveleiros saiu do papel no mesmo período. A promoção e venda de móveis usados.

Victor Noda, fundador e CEO da Mobly, ao comemorar os resultados da iniciativa, explica que o marketplace traz o conceito de reaproveitamento. O serviço alimenta, de uma maneira sustentável, um ciclo de consumo consciente e preservação de boas peças, que por algum motivo não fazem mais sentido para algum cliente, mas podem compor perfeitamente o ambiente de outro”.

Para mim, cada um faz a gestão do seu negócio de acordo com seu interesse, mas, conversei com diversos fornecedores de startups e alguns acreditam que as indústrias de móveis que fazem concessões exageradas à Mobly deveriam repensar suas atitudes, porque por trás desta falsa "sustentabilidade" está um boicote disfarçado aos móveis novos, de empresas que pagam impostos e geram empregos.

Outros, tem opinião diferente. Acreditam que quando se retira um móvel usado da casa, abre-se espaço para a compra de um móvel novo. E lembram as dificuldades que as pessoas têm de se desfazer de móveis usados, inclusive quando tem intenção de trocar por móveis mais modernos ou mais adequados as suas necessidades do momento.

Só o tempo dirá quem tem razão, e cá entre nós: as startups, se quiserem dar lucro aos acionistas, agora que tem ações negociadas na Bolsa, terão que fazer parcerias mais sérias com os fornecedores, porque hoje as indústrias de móveis têm opções de marketplace, muito além de Mobly e Westwing.

Ari Bruno Lorandi

Diretor da Móveis de Valor

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