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O setor público precisa ouvir mais o privado, afirma Sergio Moro

Por Edson Rodrigues - 15 de Julho 2020

A live “Mercado & Consumo em Alerta” desta quarta (15 de julho) contou com a presença de Sergio Moro, ex-ministro da Justiça e ex-juiz da Operação Lava Jato.

Moro disse que sua intenção, ao entrar para o governo, era assumir o Ministério da Justiça para consolidar os avanços contra a corrupção dos últimos anos, além de realizar um trabalho de combate ao crime organizado e à criminalidade violenta. “Minha percepção foi que essa agenda, principalmente anticorrupção, não estava tendo a prioridade necessária”.

Ele afirmou que foi fiel aos compromissos assumidos por ele durante sua permanência na pasta. “Eu recebi muito apoio e, também, muitas críticas, claro. Tivemos queda significativa dos principais indicadores criminais, inclusive de assassinatos”, disse ao reforçar que foram implementadas diversas políticas, mas que, infelizmente, não foi possível ir adiante.

Sergio Moro contou que as dificuldades da pandemia [no ambiente público] podem ser as reformas que já eram necessárias antes mesmo da crise. Ele explicou que a Reforma Administrativa, que ficou pronta no ano passado, não foi encaminha até hoje pelo Governo. “Pode ser que a pandemia tenha esse efeito colateral de impulsionador de reformas importantes para o Brasil. Falta coordenação na pandemia mais racional e a União não pode abdicar dessa responsabilidade”, alertou.

O ex-ministro afirmou que foram tomadas medidas corretas na área do amparo econômico para as pessoas e empresas, e que a crise pode resultar em algo positivo para todas as esferas. Moro disse que o setor privado tem contribuições relevantes a serem dadas, independentes do setor público. “Não podemos esperar o que o Governo faça tudo, pois o setor privado tem sua dinâmica própria”, lembrou.

Sobre corrupção, o ex-juiz da Lava Jato disse que hoje em dia se tem muito claro que a corrupção é a engrenagem para a econômica, “ela enterra e destorce o mercado”, disse, apontando o significativo aumento nos gastos públicos e a realização de gastos desnecessários como consequências negativas para a produtividade da economia com relação à este tema [corrupção].

Ele citou ainda uma expressão famosa – construção de catedrais no deserto – ao usar o exemplo das construções de estádios durante a Copa do Mundo que não tinham, e até hoje não têm, condições de se sustentar. Para ele, o dano à produtividade da economia é fenomenal quando praticado em larga escala. “A agenda da corrupção arrefeceu nesse governo. O nível de corrupção diminuiu depois da operação Lava Jato e espero que assim permaneça, mas para isso é importante uma agenda de reforma nessa área”, disse, lembrando que o combate à corrupção é um trabalho coletivo.

Perguntado sobre os desafios e prioridades do País, Sergio Moro disse que são muitas e afirmou que o Brasil relaxou na agenda de reformas. O ex-ministro explicou que, assim como nas empresas, a administração pública precisa de meritocracia. Para ele, loteamento político dos cargos públicos, ao colocar pessoas que não entendem do assunto em postos de administração pública, é um evidente erro. “Meritrocaria significa que você tem que ter um sistema de promoção e ganhos progressivos na sua carreira”, explicou ao dizer que na política se entra com um salário muito próximo daquele já programada para o final de carreira.

Sobre os desafios, Moro citou a simplificação da Reforma Tributária e a Educação como pontos críticos. “Não há como ter ganhos de produtividade no País se não tivermos um corpo de trabalhadores e empresários qualificados.

Moro, que está em um período de reflexão com relação às decisões passadas, disse que o momento é ruim, mas o Brasil é uma democracia consolidada e com instituições fortes. “Retomar a construção de um grande País para ter um lugar bom para todos é algo factível”, e reforçou que o setor público precisa ouvir mais o privado para a construção de uma agenda mais positiva para o país. “É importante diminuir o nível de polarização do País, acirrados nos últimos tempos, e nisso também a questão da liderança é importante”, concluiu.

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