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Os desafios das lideranças do varejo no momento atual

Revisado Natalia Concentino - 21 de Março 2023

É quase que uma tempestade perfeita.

 

No cenário externo, a conjugação de inflação ainda elevada em muitos países europeus e norte-americanos, a guerra na Ucrânia e seus desdobramentos, o esfriamento recente da economia da China e suas consequências globais e, no momento mais próximo, os problemas de alguns bancos nos Estados Unidos e também na Europa. Numa magnitude que pode mostrar tendência a desacelerar, porém ainda preocupa e gera cautela. E muitas.

 

No ambiente interno, todas as dificuldades de um novo governo agravado por velhas convicções e por disputas internas envolvendo alas do partido e suas alianças no poder. E mais as indefinições que se acumulam e as dificuldades de alinhar bases políticas desalinhadas e agravadas pela pequena margem com que foi eleito.

 

No setor de varejo e consumo no Brasil a infeliz coincidência de casos e situações específicas envolvendo algumas marcas e empresas conhecidas e historicamente referências, positivas ou negativas, em algumas de suas atividades e modelos de gestão.

 

Sem falar nas questões que envolvem a entrada de produtos do exterior sem recolhimento de impostos e gerando uma óbvia desigualdade competitiva que só agora os setores tributários oficiais começam a perceber.

 

Como resultado, uma generalizada desconfiança com setores de varejo alimentada por análises menos profundas do que deveriam e ao sabor da máxima de que o que atrai é notícia ruim e alarmante.

 

Como líderes dos setores de varejo devem se posicionar e agir nesse momento?

 

Para quem passou pela situação recente de ter todas as suas lojas fechadas e não poder trabalhar, como foi a fase inicial da recente pandemia, o quadro atual é até menos dramático do que pode parecer.

 

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Mas é inegável que existe um desafio adicional no período que tem mais a ver com a fumaça do que com o fogo.

 

Inspirar, demonstrar confiança, não minimizar problemas, encostar a barriga no balcão, para cuidar com extrema atenção do mais imediato, mas, ao mesmo tempo manter os olhos no futuro, pois será lá que será construída a nova realidade que emergirá de todo esse processo.

 

É preciso mais do que bom senso, visão e capacidade de mobilização. É preciso inspirar essa visão menos apaixonada ou superficial de curto prazo para se ater ao que é mais estrutural e estratégico.

 

O varejo é e continuará a ser um setor privilegiado pela cultura e modelo de atuação que permite a interação constante e renovada com os omniconsumidores por seus diversos canais, formatos de lojas, modelos de negócios, conhecimento e termômetro da realidade e extrema capacidade de agir e reagir, de forma ágil e incisiva para enfrentar a volatilidade.

 

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Anos de convívio com a hiperinflação moldaram o caráter e a cultura da absoluta maioria das empresas, empresários e executivos do setor.

 

E muito do que hoje se tem discutido e debatido no Brasil deverá nos direcionar para um aumento do consumo, depois deste titubeante início, em especial para os segmentos de classe mais baixa e nas regiões Norte e Nordeste do País.

 

O potencial de crescimento com continuidade do aumento da massa salarial e da confiança depois de equacionados os problemas de curto prazo que envolvem inadimplência e menor oferta de crédito pode gerar um novo ciclo de expansão consistente dos setores de varejo e consumo.

 

E sempre fundamental lembrar que o crédito às famílias no Brasil representa pouco menos de 30% do PIB, enquanto em economias mais desenvolvidas é no mínimo o dobro, sinalizando amplo potencial de crescimento, resolvidas as questões estruturais que inibem esse crescimento.

 

Mas as lideranças que representam os setores de varejo e consumo, mais do que em qualquer momento anterior, deveriam se aproximar, integrar e pensar na forma de cadeias de valor para entender a realidade em transformação e assumir postura protagonista. Poderiam, assim, esclarecer e inspirar os quase 9 milhões de brasileiros que atuam formalmente nesses segmentos, representando mais de 20% do emprego formal do País.

 

Para os líderes desses setores é tempo de pensar no todo e no coletivo e, no cenário adverso atual, pode ser o lado mais positivo.

 

*Por Marcos Gouvêa de Souza, fundador e diretor-geral da Gouvêa Ecosystem e publisher da plataforma Mercado&Consumo.

 

(Publicado originalmente em Mercado&Consumo)

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