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Pandemia mostra que e-commerce não precisa vender barato

Por Natalia Concentino - 06 de Agosto 2020

Que a pandemia impactou o setor todos concordam e os resultados estão aí para o mundo ver. Mas entre estes impactos existem pontos positivos, como o aumento das vendas de móveis pelo e-commerce que, segundo dados da Compre & Confie, cresceram 196% em dois meses (de 01 de maio a 30 de junho), em relação a igual período de 2019, movimentando R$ 1,5 bilhão. A quantidade de pedidos nestes 60 dias, de 2,5 milhões no item mobiliário, representa aumento de 207% na mesma base de comparação. O tíquete médio de R$ 621,10, mostra uma leve queda de 3,6%. Os produtos mais vendidos foram guarda-roupa, cama, cadeira, sofá e colchão, exatamente nesta ordem.

Esse aumento se deve principalmente ao fato de as pessoas terem percebido a necessidade de troca de itens do mobiliário durante a pandemia. “Por ficarem mais tempo em casa, passaram a perceber demandas que não viam antes”, acredita Philipe Cordeiro, CEO da Moveeis.com, empresa que atua na intermediação entre indústria e varejo online. Para ele, isso explica o fato de produtos como cama, colchão, guarda-roupa, cadeira e sofá, estarem entre os cinco itens mais vendidos. “São peças que as pessoas usam mais quando passam mais tempo em casa”, define.

Mas o aumento das vendas no e-commerce também pode ter sido estimulado pelo número de novos players no mercado. Segundo a Associação Brasileira de Comércio Eletrônico, a ABComm, o Brasil registrou 107 mil novos estabelecimentos de e-commerce durante a pandemia (até meados de junho). Se analisarmos os dados do IBGE, em dezembro de 2018 foram computados 12.841 estabelecimentos de vendas online, sendo que destes 979 vendiam móveis e projetarmos percentualmente sobre os 107 mil novos, concluímos que existem hoje cerca de 8 mil lojas de móveis online operando no País. Esse número, claro, leva em conta lojas individuais de pequenos lojistas e de indústrias que aderiram ao canal de vendas próprio, além dos marketplaces. Para se ter ideia, a maioria das lojas online (88%) é de pequeno porte, com até 10 mil acessos por mês, e 44% delas não tem funcionários. É possível concluir, também, que a aceleração da entrada dos novatos no e-commerce pode ter influenciado na redução dos preços, conforme dados acima.

Promoção x vendas aquecidas

As promoções normalmente estão associadas a períodos de vendas em baixa, certo? Deveria, mas nem sempre é assim. Afinal, os números, como vimos, mostram que o mercado está superaquecido na internet e, mesmo assim, basta uma rápida navegada pela rede para percebermos a enxurrada de promoções em e-commerces de móveis.

O projeto Habibat – Viva a vida em casa, tem mostrado aqui na Móveis de Valor o quanto o mercado de móveis vem perdendo oportunidade de fazer diferente, especialmente a partir das vendas online. A cada edição, a arquiteta Gemile Nondilo e a equipe da Bria Design, curadora do projeto, pesquisa exclusivamente na web móveis para compor um ambiente da casa. Além disso, analisa os pontos fracos e fortes dos grandes players de venda de móveis no e-commerce. A variação elástica de preços está entre os pontos questionados pela profissional. “A gente encontra móveis para a mesma função custando de R$ 70 até R$ 1.699”, afirma, se referindo a um painel para TV. “Considerando que tem pouca informação para influenciar o consumidor, essa prática estimula a compra do mais barato”, acredita Gemile.

Fato que se confirma no tíquete médio apontado no levantamento da Compre & Confie. Afinal como é possível um mobiliário, como um roupeiro ou um colchão, custar, em média, apenas pouco mais de R$ 600,00? 

Muito além do preço

Não resta dúvida que preço é importante na decisão de compra, seja qual for o canal escolhido, mas os chamados e-consumidores analisam outros critérios ao escolher comprar online.

Pesquisa realizada pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), para investigar o perfil e os hábitos de compra de consumidores digitais das 27 capitais brasileiras, indica que 97% buscam informações na internet antes de comprar em lojas físicas. Enquanto isso, 84% dos entrevistados afirmaram fazer o caminho inverso, pesquisando primeiro em lojas físicas antes de finalizar as compras online. Apesar da pesquisa ser anterior a pandemia, dois pontos chamam atenção: 72% dos clientes que preferem comprar pela internet destacam a maior flexibilidade de horário de compras e 69% a maior comodidade, deixando o fator preço para um nível de preocupação menor.

Enfim, o que é recomendável, principalmente quando há desequilíbrio entre oferta e procura – e este é o caso atualmente – que os preços sejam ajustados, de forma que tanto varejo quanto indústria se remunerem de forma justa e que o consumidor saia satisfeito, e leve para casa um produto não apenas para atender sua necessidade, mas principalmente oferecer todo o conforto que agora ele sabe que merece usufruir.  

Essa reportagem também está disponível na versão digital da nossa revista e você pode acessá-la clicando aqui.

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