Para a indústria gaúcha, a China fica no Brasil
Por Edson Rodrigues
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04 de Outubro 2011
Desvantagens – O problema da competitividade atinge os estados de maneiras diferentes devido a duas razões principais: a guerra fiscal e a infraestrutura logística incipiente. Em ambos os casos, a economia gaúcha encontra-se em desvantagem. Independentemente da variação do dólar ou da presença dos importados, esses fatores são essenciais para a definição do preço de um produto fabricado no Brasil e que concorre também no exterior. No caso do Rio Grande do Sul, a produção industrial responde por 25% de seu Produto Interno Bruto (PIB), perdendo apenas para o setor de serviços, que responde por 65% da economia gaúcha. Entre os principais segmentos fabris estão o de autopeças, fumo, máquinas agrícolas, produtos químicos, calçados e móveis – em boa parte dos quais há similares asiáticos competitivos no mercado doméstico, principalmente quando o dólar está baixo.
Móveis – Exemplo de setor particularmente frágil é a indústria de móveis. A cidade de Bento Gonçalves (RS), a 121 quilômetros de Porto Alegre (RS), abriga 300 fábricas deste tipo de produto que faturam cerca de 2 bilhões de reais anualmente. Trata-se do maior polo moveleiro do país, com 10% de participação de mercado. Seu ritmo de crescimento, no entanto, desacelera a olhos vistos devido a dificuldade de oferecer artigos competitivos para concorrer internacionalmente ou mesmo em outros estados. No primeiro semestre de 2011, as importações de móveis dentro do próprio Rio Grande do Sul aumentaram 90%.
Não bastasse a concorrência dos importados, há a guerra fiscal. Enquanto o ICMS sobre a produção de móveis caiu de 18% para 7% no estado de São Paulo neste ano; e de 17% para 5,61% no Espírito Santo, em 2007; o governo gaúcho não admite negociar reduções da alíquota ou quaisquer benefícios que melhore a competitividade das empresas. “Nos últimos governos estaduais, nunca houve uma política que estimulasse o setor. Para todas as reivindicações que fizemos, ouvimos a mesma resposta: ‘Estamos avaliando e entraremos em contato’. Mas, até o momento, nada foi feito”, afirma o empresário Sergio Manfroi, diretor-presidente da fabricante moveleira SCA.
Os benefícios que chegam a Bento Gonçalves, segundo Manfroi, são as linhas de crédito do BNDES para as indústrias locais, além de algumas ações realizadas no exterior pela Apex. E não se trata de chororô de empresário. A falta de estímulo tem feito, inclusive, com que algumas empresas instalem fábricas em outros estados, como a Bertolini, que montou plantas em Goiás e Pernambuco, e agora se prepara para entrar no Espírito Santo.
Além da questão tributária, os gargalos do porto de Rio Grande, que fica a 320 quilômetros ao sul de Porto Alegre, também prejudicam o desenvolvimento da indústria. A estimativa do Sindmóveis (o sindicato patronal das empresas moveleiras de Bento Gonçalves) é que o custo do transporte até Rio Grande encarece em 10% os preços das mercadorias. “Se o governo fizesse só a parte dele, que é a infraestrutura, já estaria bom. Como não é o caso, algumas empresas têm constatado que é mais rentável importar móveis do que produzir aqui”, afirma o presidente do Sindimóveis, Glademir Ferrari.
(Fonte: Veja.com)
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