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Plano Real comemora 30 anos

Revisado Natalia Concentino - 04 de Março 2024
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Imagem: Freepik

As gerações nascidas a partir de 1994 não têm a mínima ideia como era a economia nos anos imediatamente anteriores, quando a inflação chegou ao nível de 40% ao mês e quase 3000% ao ano. A engenharia monetária para derrubar a chamada hiperinflação teve início exatos 30 anos atrás. Naquele 1º de março entrou em vigor a Unidade Real de Valor (URV), utilizada como indexador para substituir a moeda ruim (cruzeiro real) por uma nova, livre da inflação, que preparou a entrada da nova, o real, quatro meses depois, quando todos os preços estavam alinhados entre si. 

 

Antes, um pãozinho francês de 50 gramas valia CR$ 38 (cruzeiros reais) e na semana seguinte custava 50% mais. A origem do descontrole foi em 1979, com a segunda crise internacional do petróleo, que provocou uma subida dos preços do produto. Desde então, foram seis tentativas para reduzir a inflação, incluindo congelamento de preços e confisco temporário do dinheiro que a população tinha depositado nos bancos. Todas as experiências foram traumáticas. 

 

O mérito do chamado Plano Real foi de uma equipe formada por jovens economistas da PUC-RJ, liderados por André Lara Resende e Persio Arida. No comando, um sociólogo, Fernando Henrique Cardoso, então à frente do ministério da Fazenda do governo Itamar Franco. De acordo com o jornalista Celso Ming, na coluna do Estadão, “Itamar chegou a demonstrar certo ciúme quando o sucesso do Plano Real foi mais creditado a FHC do que a ele. Mas acabou por reconhecer os méritos do seu ministro e trabalhou para fazê-lo seu sucessor”.

 

O controle da inflação garantiu a Fernando Henrique Cardoso credibilidade para seis meses depois, concorrer e ganhar as eleições presidenciais de 1994. Um dos principais benefícios do Plano Real foi reestabelecer a confiança do povo na economia e nos dirigentes, fator igualmente fundamental no combate da inflação na medida que as pessoas passaram a consumir mais. Fora isso, a estabilização econômica permitiu a criação de programas de distribuição de renda, como o Bolsa Família, e aumento do salário-mínimo, ambos no governo Lula.

 

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Vale recordar, porém, que o PT fez de tudo para desdenhar o Plano Real entre a população. Seus dirigentes proclamavam que o plano não passava de golpe tecnocrático que viraria fumaça em questão de meses. Ming lembra que “o assessor especial para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, com um linguajar não condizente com sua função, chegou a afirmar que o Plano Real “não passa de um Rolex produzido no Paraguai”. 

 

Com o aumento da confiança, a população pode comparar preços fazendo desaparecer, quase que na mesma medida, os remarcadores que diariamente alteravam os preços. O fato é que a estabilização da moeda abriu espaço para que os demais fundamentos da economia obtivessem equacionamento necessário, a começar da questão fiscal e da enorme crise da dívida externa. Já a política de juros foi submetida a meta de inflação, hoje, situada em 3% em doze meses – muito diferente de três décadas atrás.

 

*Por Guilherme Arruda, jornalista e escritor

 

 

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