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Projeto no Ceará descobre potencial da madeira do cajueiro

Por Natalia Concentino - 06 de Junho 2019

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Um projeto cearense descobriu que os cajueiros têm um potencial econômico bom, que vai muito além do que já era explorado pelo mercado, como a castanha de caju e demais componentes da planta, que são usados na indústria alimentícia e até de rações para animais. A madeira do cajueiro também tem um bom potencial e pode ser usada na fabricação de móveis, por exemplo.

O engenheiro mecânico Arquimedes Bastos, do Núcleo de Tecnologia Industrial do Ceará (Nutec) - vinculado à Secretaria da Ciência, Tecnologia e Educação Superior (Secitece), passou a enxergar a madeira dos cajueiros de uma outra forma, o que levou ao desenvolvimento de uma tecnologia inovadora para o processamento dessa madeira.

Esse estudo e o novo processamento da madeira do cajueiro proporcionam a criação de diversos produtos que podem ser comercializados. É possível fazer alguns tipos de móveis, como portas e banquetas, além de peças para paletes e render componentes para a produção apícola.

A tecnologia desenvolvida por Arquimedes ganhou reconhecimento e foi uma das escolhidas para se apresentar no Seminário Nordestino de Agropecuária 2019, que irá acontecer no Centro de Eventos, nos dias 13 a 15 de junho.           

“Durante o nosso trabalho, fomos incentivados pela Secitece e pela Câmara Setorial do Caju a buscar diferentes focos de cadeias produtivas e rotas tecnológicas. Foi então que identificamos a rota do Palete, que é um produto extremamente consumido em Fortaleza”, explica Arquimedes.

Segundo o engenheiro, “na cidade, são comprados, em média, 10 mil paletes por dia. E os paletes possuem componentes que nós conhecemos como “toquinhos”, que podem ser produzidos com a madeira de cajueiro. Nós utilizamos a unidade de processamento e desenvolvemos o corte específico da madeira para a produção dos toquinhos”, afirma.

O resultado foi um sucesso. “Um produtor de Chorozinho utilizou a nossa tecnologia para produzir toquinhos, com um volume de produção de 90 mil peças por dia, e passou a vender os toquinhos para as empresas que comercializam paletes”, conta o engenheiro, que garante que a colaboração é uma das intenções do projeto. “Assim como o trabalho de desenvolvimento da máquina contou com algumas parcerias com empresários do ramo agrícola, nós também damos apoio a novos interessados em utilizar a tecnologia, prestando consultoria no desenvolvimento dos seus próprios equipamentos. A ideia é compartilhar o conhecimento, e não retê-lo”.

Já na apicultura, a madeira do cajueiro pode ser usada para a construção de colmeias, que geralmente são feitas com madeiras importadas de outros estados. Isso gera um custo alto e inviabiliza a produção de pequenos produtores rurais cearenses.

Arquimedes também é apicultor e percebeu que a madeira do cajueiro acabava sendo utilizada como lenha para abastecer olarias ou era simplesmente descartada. Isso despertou o interesse dele e de outros profissionais técnicos da indústria apícola, resultando na formação de um grupo que desenvolveu máquinas capazes de processar essa madeira e fazer o aproveitamento de insumos que podem ser usados no setor ou para fabricação de outros itens.

As máquinas são apropriadas para o corte desse tipo de madeira, que devido a suas características não conseguia ser processada por máquinas convencionais de marcenaria. “Não é fácil cortar madeira de cajueiro, pois ela é úmida e cheia de fibras e resina. Então iniciamos em 2011 os estudos para a fabricação de uma máquina, e após anos de pesquisa conseguimos identificar parâmetros como a velocidade de corte, os tipos de disco utilizados, e a potência ideal, criando uma unidade de processamento de madeira com várias máquinas” explica Arquimedes.

O desenvolvimento da unidade de processamento foi realizado pela Secitece, com apoio técnico da Câmara Setorial do Caju e parcerias com empreendedores e produtores rurais. 

A intenção, segundo Arquimedes, é mostrar que a madeira do cajueiro é viável, e que utilizando o equipamento de corte certo e um tratamento adequado, ela pode funcionar como matéria-prima para a produção de diversos itens e movimentar a economia. “A madeira do cajueiro tem um valor muito nobre para ser apenas queimada ou descartada. Nós desenvolvemos a tecnologia de corte dessa madeira para que empresas possam fabricar produtos a um custo mais baixo, e utilizando um material abundante em nosso ecossistema, já que o Ceará possui mais de três mil hectares de plantações. Além da apicultura e dos paletes, a madeira do cajueiro também pode servir na produção de móveis, e nós continuamos estudando todas as possibilidades desse material para seguir desenvolvendo a unidade fabril e ampliar as possibilidades do setor de cajucultura”, destaca.

PEC NE 2019

O projeto de aproveitamento e corte da madeira do cajueiro foi um dos selecionados para o Showroom Agropecuário do XXIII Seminário Nordestino de Pecuária (PEC NE 2019). O evento, que vai acontecer nos dias 13 a 15 de junho, no Centro de Eventos, em Fortaleza, apresenta uma programação com cursos, palestras, oficinas e seminários sobre temas voltados ao agronegócio nordestino, além de promover uma feira de produtos e serviços e ofertar espaço para expositores.

A equipe do projeto de aproveitamento da madeira de cajueiro participará do Showroom, onde irá expor o seu trabalho inovador, e concorrerá com mais oito equipes participantes em uma votação feita pelo público, que escolherá os melhores projetos. A escolha será baseada em três critérios principais: criatividade, funcionalidade e custo-benefício.

(com informações do Governo do Estado do Ceará)

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