Qual será o futuro das indústrias de móveis planejados no Brasil?
Foi no final da década de 90 e começo dos anos 2000 que as indústrias de cozinhas, capitaneadas pela Todeschini, colocaram em prática um modelo de negócios que, durante anos manteve-se calcado em alto índice de crescimento, servindo como exemplo de expansão e pulverização de mercado.
Com base na ampliação de pontos de vendas por meio da adesão de terceiros, especialmente em forma de franquias, presenciamos um boom das lojas de planejados. Em 2010 já havia quase 4 mil lojas no País. E o negócio parecia tão bom que em 2012, com 888 lojas abertas, a Unicasa abriu seu capital, com um faturamento anual de 280 milhões.
Porém, algo começou a dar errado. Mas por quê? Com o crescimento das possibilidades geradas pela forte evolução do mercado de planejados, muitos “investidores” se aventuraram, abrindo seus pontos de venda. Alguns deles tinham “vocação para a coisa”, outros, simplesmente investiram na oportunidade, sem se atentar a alguns aspectos específicos do negócio. O que acontece muito no modelo de franquia.
Além disso, dificilmente o investidor é quem efetivamente administra o negócio no dia a dia, proporcionando espaços para equívocos no processo de venda e pós-venda.
Mas a estratégia desorganizada de crescimento – inclusive proporcionando uma espécie de “canibalização” por conta do surgimento de lojas com a mesma bandeira e foco na mesma rua ou locais muito próximos -, não são raros os casos em que os resultados foram insatisfatórios. Voltando ao case Unicasa, que serve para ilustrar o que afirmamos – e, também, porque é a única que divulga seus números –, em 2019 o número de lojas exclusivas havia reduzido para 370 e o faturamento recuado para 185 milhões. Ou seja, 58% menos lojas e 34% menos receita de vendas sete anos depois.
Não sem razão, portanto, a área de planejados passa por um processo de “depuração”, por assim dizer.
Mas a principal dificuldade, que ainda não foi solucionada, diz respeito à falta de mão de obra qualificada. Não são poucos os casos de fracasso causados por falta de vendedor, projetista e instalador, contribuindo para a deterioração da qualidade do negócio.
É fato que a desintermediação no processo de venda ao consumidor não trouxe os resultados esperados à indústria nem ao consumidor.
Quando se fala de qualquer segmento de economia, sempre haverá os que choram e alguns que “vendem lenço”. E na esteira das dificuldades das indústrias, um exército de mais de 300 mil marceneiros retomou a liderança do mercado, com apoio das revendas em produtos, tecnologia, serviços e até financiamento. Hoje, para se ter ideia, metade do MDF produzido no Brasil é comercializado nas revendas para a marcenaria.
Cá entre nós: O mercado de planejados encolheu para as indústrias e retomá-lo nos mesmos níveis de dez anos atrás exige esforços que provavelmente não compense os investimentos.
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