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Revista conta história da catarinense Butzke

Por Jeniffer Oliveira - 11 de Março 2019

Um banquinho dobrável de madeira, extremamente fácil de produzir, empilhar e transportar, definiu a guinada na história da catarinense Butzke. A empresa, que antes montava carroças e implementos rodoviários, passou de marcenaria para fábrica de móveis. Além de sintetizar os princípios de praticidade e uso sustentável de recursos, que se tornaria uma marca da empresa a partir de então, a peça se destacou por outros dois atributos. O primeiro: ela foi batizada de Bancotte, incorporando o sobrenome à frente do negócio, que em 2019 completa 120 anos.

 

A família Otte, de origem germânica, havia comprado a fábrica dos herdeiros de Emílio Butzke, imigrante alemão que iniciou o negócio em 1899 como uma marcenaria, serraria e fabricante de esquadrias. Àquela altura, a fábrica já havia se diversificado e ganhado prestígio com suas carrocerias para caminhão. Até que o Bancotte abriu o caminho para o crescimento no setor de móveis. “Foi a primeira peça de mobiliário que produzimos e também a primeira que exportamos”, afirma o atual CEO da empresa, Michel Otte, revelando a segunda razão que transformou o Bancotte em símbolo da empresa. Isso foi há 36 anos. De lá para cá, muita madeira foi cortada, lixada, perfurada, encaixada para ganhar a forma de móveis, que já são vendidos para 30 países.

 

 

Hoje, 20% do que a Butzke produz vai para o mercado externo — e a meta é aumentar essa participação para 40% ainda em 2019. “Nossa expansão internacional está baseada no mercado norte-americano”, afirma Michel, que é também presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Móveis de Alta Decoração (Abimad). Há três anos, a Butzke fornece seus produtos para a rede sueca de mobiliário Ikea, com forte presença nos Estados Unidos e, este ano, a Ikea será a maior compradora da fábrica.

 

O crescimento das vendas internacionais da Butzke está relacionado a uma decisão empresarial tomada ainda na década de 1970, quando os proprietários iniciaram a atividade de reflorestamento. “Meu pai e meu avô compravam madeira nativa extraída na região. Depois passamos a comprar no Paraná. De lá, fomos até o Mato Grosso do Sul. Percebemos que se a madeira não fosse reposta ficaríamos sem matéria-prima para trabalhar”, explica Michel.

 

A preocupação com a sustentabilidade do negócio deu origem a uma filosofia de respeito ao meio-ambiente que hoje vai muito além do uso responsável da madeira. Em 1998, a Butzke foi pioneira, no setor de móveis, a obter a certificação FSC (Conselho de Manejo Sustentável). Criada em 1993 por um grande grupo comercial europeu, a iniciativa reuniu ambientalistas e representantes das madeireiras para encontrar um modelo de preservação que levasse em conta o cuidado com o planeta e a viabilidade econômica das empresas. “Seguimos o exemplo da Klabin, que já havia obtido a certificação no setor de papel e celulose”, recorda Michel.

 

Atualmente, 90% da madeira usada na fábrica é eucalipto de reflorestamento. A parte que cabe à espécie nativa cumaru também é explorada de forma sustentável, com seleção de exemplares já próximos do final da vida na floresta. Ou seja, árvores que iriam morrer e apodrecer na natureza renascem sob a forma de móveis para jardim, resistentes aos efeitos do sol e da chuva. A empresa criou uma área para testar a longevidade do que produz, deixado ao ar livre mesas e cadeiras. Algumas estão lá há 20 anos.

 

Hoje na Butzke o compromisso ambiental passa por todos os processos industriais. As tintas e vernizes, que antes usavam solventes químicos, foram substituídos por preparados ecológicos, à base de água. A espuma dos estofamentos, que também era obtida a partir de polímeros plásticos derivados de petróleo, hoje vem da reciclagem de garrafas PET – evitando o descarte de um dos grandes vilões de rios e oceanos.

 

Isso tudo ajuda a criar valor para os produtos da Butzke em mercados como o europeu, onde a pressão pela sustentabilidade é maior, mas a empresa também considera a importância do design e da inovação para chegar onde chegou. Trabalhar em parceria com grandes designers de móveis, como Carlos Motta e Sergio Rodrigues, não apenas ajudou a elevar a percepção de qualidade dos produtos da marca, como forçou o desenvolvimento de novas técnicas. Recentemente, uma parceria com a também catarinense Mormaii deu origem às cadeiras revestidas com neoprene, o material usado nas roupas térmicas de surfistas. Uma prova de que é possível inovar mesmo em áreas onde tudo já parece ter sido testado.

 

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