Setor de colchões prevê crescimento moderado no 1º semestre

O levantamento contou com 73 respondentes e cerca de metade dos respondentes projeta um aumento no faturamento no 1º semestre de 2025. Ao todo quase metade dos pesquisados acredita que 2025 será melhor que 2024.
O contexto atual do mercado de colchões é percebido como desafiador, marcado por custos elevados e forte competitividade. A pesquisa da Abicol (Associação Brasileira da Indústria de Colchões) intitulada “Panorama do Setor Colchoeiro – Expectativas para o 1º semestre de 2025” esboçou um quadro das perspectivas e desafios da indústria de colchões no Brasil para os próximos meses. O levantamento contou com 73 respondentes, entre fabricantes de colchões (com e sem rede própria de lojas) e fornecedores do setor, abrangendo empresas de diversas regiões do país — predominantemente Sudeste e Sul —, associadas e não associadas.
Os resultados da pesquisa indicam um otimismo moderado para o primeiro semestre de 2025, com a maioria das empresas apostando em algum crescimento nas vendas e na produção, apesar das dificuldades persistentes.
Expectativas para o 1º semestre de 2025
De modo geral, cerca de metade dos respondentes projeta um aumento no faturamento no 1º semestre de 2025 em comparação com mesmo período de 2024, enquanto aproximadamente quatro em cada dez temem uma queda nas receitas. Apenas uma pequena parcela (menos de 10%) espera estabilidade, sem crescimento ou queda significativa. Em termos de produção, a maioria dos fabricantes de colchões espera elevar o volume produzido no semestre — sobretudo incrementos de até 10% —, ao passo que cerca de 30% dos fabricantes antecipam algum declínio na fabricação, e o restante prevê manter os níveis atuais.
Aproximadamente dois terços dos fabricantes projetam vender mais colchões nos próximos meses em relação ao ano anterior, contra um terço que estima uma redução nas vendas. Em suma, embora uma fatia considerável das empresas mantenha o pé no freio, predomina a expectativa de crescimento moderado no setor colchoeiro no curto prazo.
Desafios do setor colchoeiro
A pesquisa também levantou quais são os principais desafios que afetam negativamente o desempenho das empresas de colchões. Dois entraves despontam com destaque: os custos operacionais elevados - mais da metade dos participantes citou os altos custos de produção (especialmente gastos com matérias-primas, energia e mão de obra) como um obstáculo importante -, e a concorrência desleal – gerada pela presença de produtos irregulares no mercado (colchões fora das normas de qualidade ou vendidos sem conformidade fiscal).
Além disso, a flutuação da demanda do mercado foi apontada como um desafio por um número significativo de respondentes, refletindo a instabilidade nas vendas e no consumo de colchões em diferentes períodos. A concorrência intensa entre marcas (incluindo a entrada de novos players e a guerra de preços) e a dificuldade de formar e reter mão de obra qualificada também foram mencionadas com frequência, corroborando o cenário desafiador.
Em menor grau, apareceram ainda fatores como excesso de burocracia e regulamentações, o custo da certificação compulsória de produtos – que pesa mais quando a fiscalização é falha –, além de questões pontuais de marketing e vendas. Por outro lado, praticamente nenhuma empresa sinalizou problemas graves de qualidade do produto, indicando que os desafios estão mais ligados a questões externas de mercado e custos do que à aceitação ou à performance dos colchões em si.
Diferenças por perfil de participante
A pesquisa permitiu comparar as perspectivas entre três perfis de empresas: fabricantes sem loja própria, fabricantes com rede de lojas e fornecedores de insumos para o setor. As diferenças de posicionamento são marcantes:
Fabricantes de colchão com rede de lojas revelaram-se os mais otimistas. Nenhum dos fabricantes com loja própria projeta queda no faturamento ou nas vendas do primeiro semestre; pelo contrário, a grande maioria espera crescimento, ainda que modesto, nesses indicadores. Aproximadamente 66% desse grupo estima aumentar o faturamento (principalmente até 10% acima do ano anterior) e os demais preveem manter-se estáveis ou crescer de forma mais expressiva.
Quando se trata dos desafios, esses fabricantes destacam-se por uma preocupação especial com a concorrência desleal: praticamente todos citaram a existência de colchões informais ou fora das normas como um entrave sério, percentual bem acima do dos outros perfis, sugerindo que empresas com lojas próprias – mais expostas ao consumidor final – sentem mais fortemente a competição de produtos clandestinos ou de baixa qualidade no mercado.
De modo geral, os fabricantes com lojas tendem a sofrer menos com questões de demanda regional ou limitações de mão de obra, mantendo um otimismo prudente e confiança em sua capacidade de atrair clientes e expandir as vendas em 2025.
Já os fabricantes de colchão sem rede de lojas mostraram um perfil mais conservador e cauteloso. Ao contrário dos colegas com lojas, a maioria dos fabricantes sem loja própria prevê queda no faturamento no primeiro semestre de 2025 em relação a 2024. Cerca de 60% deles estimam uma redução nas receitas (principalmente quedas moderadas de até 30%), reflexo de preocupações com o enfraquecimento da demanda no varejo multimarcas que distribui seus produtos.
Apenas uma minoria nesse grupo espera aumento de faturamento no curto prazo. Consequentemente, a visão para o ano inteiro também é mais pessimista: 60% acreditam que 2025 será pior que 2024 para o mercado de colchões, enquanto os demais se dividem entre igualar o ano anterior ou melhorar. Os desafios percebidos por esses fabricantes reforçam sua postura cautelosa – oscilações na demanda interna foram mencionadas por 60% deles, indicando que instabilidades no consumo afetam diretamente suas vendas por canais terceiros.
Esses empresários também sofrem com custos elevados e concorrência de mercado intensa, mas curiosamente apontaram menos a questão da concorrência desleal do que os demais perfis. Isso pode indicar que, atuando muitas vezes em nichos regionais ou por meio de lojistas parceiros, os fabricantes sem loja própria estão mais preocupados em manter o volume de pedidos e enfrentar concorrentes formais do que com a competição de produtos informais. Em resumo, trata-se do grupo mais atento aos riscos de mercado no curto prazo, ajustando expectativas para baixo diante das incertezas econômicas.
Fornecedores do setor colchoeiro – empresas fornecedoras de matérias-primas e componentes (espumas, tecidos, molas etc.) – apresentam uma expectativa intermediária entre os fabricantes otimistas e pessimistas. Ao avaliar o desempenho de seus negócios, metade dos fornecedores espera que 2025 seja melhor que 2024, ao passo que um terço teme um ano pior e os demais estimam estabilidade.
No comparativo semestral, suas projeções de faturamento estão divididas de forma quase equilibrada: aproximadamente 42% preveem crescimento nas vendas para fabricantes (impulsionado possivelmente por uma demanda um pouco maior da indústria), enquanto 50% indicaram a possibilidade de queda no faturamento na primeira metade do ano – reflexo de uma possível desaceleração de pedidos por parte de alguns fabricantes de colchões.
Quanto aos desafios, os fornecedores compartilham amplamente da preocupação com os custos operacionais: cerca de 58% listaram o alto custo de produção e logística como principal dificuldade, uma taxa até superior à dos fabricantes. Esses custos incluem não apenas matérias-primas importadas ou dolarizadas, mas também energia e transporte, que afetam fortemente a competitividade dos insumos. A concorrência desleal também foi citada em torno de 42% dos fornecedores. Por outro lado, desafios como mão de obra qualificada e ações de marketing aparecem com menos intensidade nesse grupo, já que muitos fornecedores atuam em mercados B2B especializados.
Em síntese, os fornecedores do setor colchoeiro mantêm um otimismo moderado, apostando na retomada gradual da produção de colchões pelos clientes fabricantes, mas sem ignorar os entraves de custos e informalidade que podem travar o crescimento.
Perspectivas para o ano de 2025
Na visão consolidada de todos os participantes da pesquisa, o ano de 2025 tende a ser de desempenho ligeiramente melhor que 2024 para o mercado de colchões, embora a opinião esteja dividida. Ao todo, 47,8% dos respondentes acreditam que “2025 será melhor que 2024”, contra 39,1% que afirmam que “2025 será pior” e 13% que esperam um ano igual ao anterior, sem grandes mudanças. Esse equilíbrio frágil entre otimismo e preocupação reflete as condições atuais: de um lado, sinais de recuperação econômica e esforços de adaptação do setor colchoeiro alimentam a esperança de crescimento; de outro, a conjuntura ainda impõe cautela, com inflação de custos, juros altos e consumo instável limitando projeções mais arrojadas.
Fabricantes com loja e fornecedores despontam como os mais confiantes numa melhora em 2025, ao passo que fabricantes sem loja demonstram maior apreensão em relação ao futuro próximo. Ainda assim, em todas as categorias existe uma expectativa de que eventuais melhoras serão graduais, sem expansões abruptas, até porque nenhum dos entrevistados projeta aumentos extraordinários (superiores a 30%) nem quedas drásticas em seus indicadores.
Ou seja, há uma predominância de expectativas positivas, mas com um contingente significativo de empresas receosas. Em resumo, a perspectiva geral para 2025 é de uma leve alta no desempenho do setor colchoeiro, embalada por ajustes e estratégias para superar os desafios, porém dependente de um ambiente econômico mais favorável para se consolidar.
Os resultados do “Panorama do Setor Colchoeiro” trazem insights importantes, tanto para a iniciativa privada quanto para políticas públicas. Ficou evidente que reduzir custos e combater a informalidade são fatores-chaves para destravar o pleno potencial de crescimento do setor de colchões. Nesse sentido, é fundamental que o setor público esteja atento: medidas que possam gerar intensificação da fiscalização contra a sonegação fiscal e a fabricação/venda de colchões fora das normas teriam duplo efeito positivo – protegem o consumidor e garantem um mercado mais justo, eliminando a concorrência desleal enfrentada pelas empresas sérias. Regulações sem a devida vigilância penalizam quem busca a conformidade sem efetivamente coibir os infratores.
Em paralelo, o setor privado deve fazer a sua parte para enfrentar os desafios internos: investir em eficiência produtiva e inovação para diluir custos elevados, adotando novas tecnologias e otimização de processos que aumentem a produtividade na fabricação de colchões. As empresas também precisam reforçar programas de capacitação e retenção de mão de obra, garantindo equipes qualificadas e estáveis para melhorar a qualidade e reduzir retrabalhos.
No campo comercial, estratégias de marketing e vendas mais agressivas e criativas podem ajudar a estimular a demanda – seja por meio de lançamentos de produtos com valor agregado, ou expansão para novos mercados consumidores, os fabricantes de colchões devem buscar atrair o cliente final destacando os diferenciais de qualidade e conforto de seus colchões. A cooperação setorial através de entidades como a Abicol permanece crucial: a troca de informações de mercado, a união em prol de interesses comuns e a autorregulamentação (como os selos de conformidade) fortalecem todo o segmento.
Em conclusão, a pesquisa aponta que há oportunidades de crescimento em 2025, mas elas virão acompanhadas de desafios significativos a serem superados. Poder público e iniciativa privada precisam atuar em conjunto – o primeiro, garantindo um ambiente de negócios equilibrado e livre de ilegalidades; o segundo, aprimorando a gestão e a competitividade das empresas. Com essas frentes de atenção alinhadas, o setor colchoeiro brasileiro poderá consolidar uma retomada sustentável, beneficiando fabricantes, fornecedores, lojistas e consumidores em geral.
Comentários