IMG-LOGO

Sua empresa sabe qual a relação do brasileiro com o dinheiro?

Revisado Marina - 24 de Fevereiro 2022

Grana, barão, bufunfa, tutu. Na língua portuguesa, os sinônimos para dinheiro são muitos, mas a disposição para debater o assunto não é tão grande assim. É que, no Brasil, dinheiro é um tabu: o tema é pouco discutido em família e pode até ser uma fonte de conflitos. Além disso, a visão que se tem sobre ele é paradoxal. Se, por um lado, o consumo é uma forma de pertencimento na nossa sociedade, por outro, o medo de não ter recursos no fim do mês é uma constante em muitos lares.

 

Nos últimos anos, essa situação tem se tornado ainda mais constante. De acordo com um estudo realizado pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), em novembro de 2021, 12,3 milhões de famílias brasileiras tinham dívidas a vencer no cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, crédito consignado, empréstimo pessoal ou prestação de carro e de casa. Isso representa 74,6% de famílias endividadas, ou seja, quase ¾ do total de todo o país.

 

Dentro desse contexto, o Google, em parceria com a Liga Pesquisa e a Provokers, realizou a pesquisa “A relação do brasileiro com dinheiro”, que analisa de maneira abrangente como ganhamos, gastamos e investimos nosso dinheiro. Para esse estudo, foi usada uma amostra qualitativa, que contou com a participação de consumidores e formadores de opinião, e outra quantitativa, que entrevistou mais de 1.500 pessoas, maiores de 18 anos, bancarizadas ou não, em todo o país.

 

LEIA: Afinal, quem fabricou a mesa de Putin que virou meme?

 

O que a pesquisa mostrou é que alguns fatores explicam a dificuldade do brasileiro para lidar com dinheiro. Para começar, tem o fato de fazermos parte de uma sociedade bastante desigual, o que interfere na perspectiva de mobilidade social e faz com que, quando se tem um dinheiro extra, se tenha preferência por consumir a poupar. Ou seja, quando se trata de dinheiro, o brasileiro costuma pensar mais no curto prazo do que no planejamento de longo prazo.

 

Além disso, na nossa sociedade é mais comum fazermos uma associação direta entre dinheiro e trabalho – isto é, o trabalho como sendo a única fonte de riqueza –, o que também limita a crença de que o dinheiro pode vir de outros lugares, como investimentos, por exemplo. E, por fim, este assunto é um tabu porque falta educação financeira e sobra medo de perder dinheiro, o que acaba por não provocar nenhuma discussão sobre o tema.

 

Para Vitor Zenaide, Market Insights Lead no Google, o levantamento revela que a relação do brasileiro com dinheiro vai muito além de fatores demográficos. “Geralmente, costumamos olhar renda, idade e região em pesquisas assim. Estes aspectos são relevantes, mas não podem ser vistos de forma simplificada. São nossas atitudes em relação a como ganhamos, gastamos e investimos o dinheiro que indicam o que valorizamos num produto financeiro, se conseguimos manejar nossas dívidas, se sonhamos com planos futuros, ou como nos conectamos com as abordagens e comunicações das marcas. Tudo isso ajuda a explicar alguns fatos observados no mercado, como o elevado endividamento da sociedade, a aceitação e experimentação com bancos digitais e o baixo crescimento no número de investidores no país.”

 

São nossas atitudes em relação a como ganhamos, gastamos e investimos o dinheiro que indicam o que valorizamos num produto financeiro.

 

Entenda, a seguir, as principais características desses seis perfis diferentes na relação do brasileiro com dinheiro:

 

1. Os batalhadores: dinheiro é para ganhar

 

Este grupo representa 26,3% dos brasileiros. São pessoas que veem o dinheiro como uma forma de sobrevivência e para pagar contas, não como um caminho para a felicidade. Geralmente, acreditam que o dinheiro corrompe as pessoas e o consideram algo ruim. Se precisam ganhar mais dinheiro, preferem iniciar um negócio a investir ou poupar. Há uma maior predominância de autônomos, com renda mais baixa, que moram nas regiões Nordeste e Sudeste e são menos escolarizados. Neste grupo também há um número mais significativo de desempregados.

 

 

 

 

Para o perfil batalhador, gastar é sinônimo de tristeza e poupar, de empoderamento. Apesar de ver os bancos como viabilizadores dos seus planos, esse grupo é o menos “bancarizado”, ou seja, o que menos participa do sistema bancário, especialmente quando se trata de investimentos e carteiras digitais.

 

2. Os endividados: dinheiro é para pagar

 

Este grupo é tão significativo no Brasil quanto o anterior e representa 26,3% do total. São aqueles que estão sempre correndo atrás para a conta fechar. Eles são os que menos conseguem poupar e seus gastos consomem tudo o que ganham, por isso acabam usando o cartão de crédito para esticar o orçamento e conseguir pagar as contas – como o crédito tem juros mais altos, a dívida acaba se tornando uma bola de neve, difícil de controlar. Este perfil é composto sobretudo por pessoas casadas que têm um emprego formal e uma renda mais baixa, moram nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, e são menos escolarizadas.

 

 

 

Por estar sempre no vermelho e mais distante de atividades ligadas a investimentos, o grupo dos endividados sente muito medo e ansiedade quando precisa investir. Isso acontece porque essas pessoas se sentem confusas e pouco empoderadas quando o assunto é finanças ou economia.

 

3. Os céticos: dinheiro é para evitar

 

Os céticos representam 21,2% da população que acreditam que o dinheiro torna as pessoas reféns, por isso preferem manter distância. Este grupo está desacreditado, acha que nunca conseguirá enriquecer ou ter dinheiro suficiente. Uma parte considerável deste grupo é formada por pessoas casadas que têm emprego formal, uma renda média e são menos escolarizadas, e têm maior predominância entre moradores da região Sul.

 

 

 

Para os céticos, os sentimentos em relação ao dinheiro são negativos. Dessa forma, gastar é uma tristeza, poupar é uma surpresa, e investir traz medo e ansiedade. Quando se trata da penetração de produtos financeiros, esse perfil fica abaixo da média em quase todos os produtos, exceto financiamentos e títulos de capitalização. E, para eles, investir é economizar, ou seja, pagar o mínimo possível pelas coisas que desejam.

 

O grupo dos céticos é o que menos faz PIX. O cartão de crédito só é usado em compras grandes, como bens duráveis, viagens e compras online.

 

4. Os materialistas: dinheiro é para gastar

 

Os materialistas, que são 15,2% da população, têm uma relação imediata com dinheiro: querem usufruir de tudo que ele pode oferecer. Para eles, dinheiro traz felicidade e status. Não se importam de pagar um pouco mais caro para ter aquilo que desejam, pois pensam que o que é bom é caro. Este perfil é composto sobretudo por pessoas solteiras que têm uma renda média, moram nas regiões Nordeste e Sudeste e são menos escolarizadas. Esse grupo é o que menos enxerga o dinheiro como um caminho para as coisas — para eles, dinheiro é o objetivo final.

 

 

Como seria de se esperar, gastar é uma alegria para o materialista e, como ele prefere consumir com o dinheiro que sobra no fim do mês, poupar acaba sendo algo curioso. Investir, por sua vez, é um empoderamento.

 

Os materialistas são pessoas que estão em fase de experimentação, especialmente em renda fixa, previdência e tesouro direto.

 

5. Os planejadores: dinheiro é para multiplicar

 

Este grupo equivale a 6,1% do total e tem o hábito de poupar todo mês. São pessoas que gostam de deixar o dinheiro investido para que ele trabalhe para elas. O planejador está sempre em busca de conhecimento, conteúdos e cursos de educação financeira e, por isso, se torna referência na família quando o assunto é cuidar do dinheiro. O perfil aqui é de pessoas casadas que têm uma renda alta, estão predominantemente nas regiões Sul e Sudeste e são mais escolarizadas.

 

Para o planejador, gastar é tranquilo, poupar é empoderamento, e investir provoca entusiasmo e confiança — apenas sentimentos positivos porque, para este perfil, a relação com dinheiro está sob controle. As pessoas deste grupo são aquelas que mais possuem produtos financeiros, que vão da poupança e títulos públicos a ações e criptomoedas.

 

 

6. Os poupadores: dinheiro é para guardar

 

Os poupadores, que representam 5,1% da população, têm um perfil parecido com o dos planejadores: guardam dinheiro mensalmente e gostam de conteúdos de educação financeira. A diferença está no menor apetite para o risco: uma vez que preferem a poupança, estão sempre em busca de descontos em compras e adoram pechinchar. Predominam neste grupo as pessoas solteiras que têm uma renda média e são mais escolarizadas. É o perfil que mais conta com donas de casa — 12% do total tem essa ocupação.

 

 

Os poupadores formam o grupo mais jovem entre todos, o que pode explicar o menor apetite que eles têm para o risco, já que estão no início da vida, com uma renda não muito alta e uma preocupação maior em guardar. Exatamente por isso, para eles, gastar é motivo de nervosismo, poupar gera entusiasmo, e investir, empoderamento. O zelo com o dinheiro, aliás, é o que mais os diferencia dos planejadores — o que não significa que ele não possa se tornar um planejador no futuro. Este grupo é o que mais possui maquininhas próprias de cartões e que quer melhorar habilidades de investimento e de pagamentos. Mais conectados, os poupadores gostam de produtos que facilitem os pagamentos digitais, como PIX e cartão virtual.

 

Para o poupador, investir é planejar um futuro, realizar sonhos e conquistar coisas.

 

A possibilidade de sonhar e criar planos de vida

 

Por mais que exista uma questão cultural que nos atrapalha na hora de falar sobre o assunto, a pesquisa mostra que quanto mais positiva é a relação com dinheiro, maior a capacidade das pessoas de sonhar e criar planos. A realidade, é claro, bate à porta quando falamos de planos imediatos, mas o futuro pode trazer novas oportunidades.

 

Outra conclusão que podemos tirar é que quando falamos de sonhos ligados à liberdade financeira – como trabalhar menos ou ter uma segunda casa para lazer –, eles estão praticamente restritos a dois perfis: planejadores e poupadores, que têm uma relação mais positiva com o dinheiro.

 

É importante prestar atenção em como construir um diálogo com esses diferentes grupos, entender seus receios e mostrar as possibilidades.

 

Por isso, é importante prestar atenção em como construir um diálogo com esses diferentes grupos, entender seus receios e mostrar as possibilidades que eles podem ter nesse universo. Trabalhar a educação financeira em uma linguagem compreendida por todos é fundamental para estabelecer conexões e ser propositivo no enriquecimento de cada perfil, contribuindo para o desenvolvimento da sociedade.

 

A pesquisa completa sobre a relação do brasileiro com dinheiro você encontra aqui.

 

Por Mônica Carvalho / Google BR

Comentários