Tenreiro é relembrado em significativa exposição da Casa Zalszupin
Desde o dia 23 de outubro até 15 de dezembro a Casa Zalszupin será palco para a exposição mais significativa dos últimos 20 anos do designer e artista plástico Joaquim Tenreiro. Com cerca de 50 trabalhos e peças históricas entre móveis, pinturas e desenhos técnicos, a mostra Tenreiro traz intuição, cor e geometria através da curadoria de Ana Avelar e Jayme Vargas.
A mostra surgiu a partir da conjugação de diversos fatores, entre eles, o fato de não haver uma mostra significativa do trabalho do Tenreiro há muitos anos, o que contrasta com a importância e a permanência de sua obra. Outro ponto que incentivou a exposição foi a efetivação do acordo de representação entre a Etel Design e o Instituto Tenreiro que representa os herdeiros do artista.
Foto: Reprodução Casa Claudia |
A exposição apresenta uma amostra da obra de Tenreiro percorrendo toda a sua trajetória, desde suas primeiras pinturas da década de 1930 até suas primeiras peças de mobiliário da década de 1940. A exposição também passa pela sua produção de mobília das décadas seguintes, que representam o período de maturidade de sua atividade como designer, até as suas obras de arte de natureza escultórica, relevos, colunas e fitas, que pertencem ao momento (a partir de 1968) em que o artista abandonou a criação de designer e passou a dedicar-se integralmente a criação artística.
A última exposição da obra de Tenreiro com essa abrangência aconteceu em dezembro de 1999, na mostra "Joaquim Tenreiro o Mestre da Madeira" realizada pela Pinacoteca do Estado de São Paulo. O que reforça a importância de relembrar agora, em 2021, o trabalho desse artista que foi fundamental para a construção do mobiliário brasileiro atual. “Tenreiro pode ser considerado o principal nome do processo de modernização do mobiliário brasileiro. Desde o início de sua atividade como criador de móveis, no começo da década de 1940, ele se engajou na superação dos estilos tradicionais de mobília, de traços ecléticos e historicistas, que prevaleciam até então”, conta o curador Jayme Vargas. “Ele definiu o seu trabalho a partir dos elementos formais do móvel moderno, como leveza, ausência de ornamentos, transparência, contenção formal, busca de linhas puras e informalidade”, completa.
Tenreiro buscava trazer elementos de brasilidade para o móvel, como o emprego das madeiras brasileiras, que ele passou a conhecer em profundidade, e de outros materiais que ele julgava adequadas ao uso no país. “Ele teve uma formação múltipla, que incorporou a tradição da marcenaria artesanal da sua região natal ao norte de Portugal, a prática artística no Núcleo Bernadelli, um importante grupo de artistas sediados no Rio de Janeiro no início da década de 1930”, explica Vargas. “E ainda contou com a convivência com profissionais competentes e que tinham experiência no projeto e na confecção de mobiliário, com quem trabalhou em empresas importantes deste setor antes de iniciar a sua trajetória de autor”, continua o curador.
Móvel produzido por Joaquim Tenreiro |
O artista embasou a fabricação de móveis em sua formação na marcenaria de qualidade praticada pelo pai e pelo avô em sua região natal, na Serra da Estrela, em Portugal. “Embora tenha manifestado interesse em aderir a produção industrial, ele manteve o seu trabalho nos quadros da produção artesanal ou semiartesanal”, conta Vargas. O curador explica que este modo de fazer, que caracterizou também a produção do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, caiu em desuso a partir do avanço da industrialização do móvel brasileiro, mas tem sido recuperado por empresas e profissionais do ramo moveleiro, como é o caso da Etel Design, responsável, ao lado da Galeria Almeida Dale, pela constituição da Casa Zalszupin.
Tenreiro sempre manifestou essa preocupação de trazer ao seu móvel características brasileiras. “Entre os atributos que ele buscou estão o conhecimento e o uso qualificado e capaz das madeiras brasileiras, a compatibilidade do móvel com as características do país, como o seu clima, o que resultou em peças como aquelas que empregavam a madeira e a palhinha, e que procuravam se afastar do uso de acabamentos e revestimentos adequados as regiões de clima frio”, destaca o curador. “Tenreiro tinha uma certa liberdade formal que se distancia em certa medida do racionalismo e do funcionalismo que muitas vezes tipificaram o móvel moderno internacional. E ainda a opção pela manufatura artesanal ou semiartesanal em contraponto à prioridade dada a produção industrial no contexto da mobília moderna internacionalizante, que se definia pela aderência aos estilos definidos como típicos de uma estética da era industrial”, conclui Vargas.
Os curadores contam que a pesquisa e a prática curatorial que informaram a exposição antecederam em muitos anos a sua realização e foram aplicadas ao projeto expositivo assim que ele se viabilizou. “Me chama a atenção em seu trabalho, além da excelência de projeto e de execução, da sua alta expressividade criativa, a síntese que ele promoveu entre a sua formação, a sua prática de designer e artista e as circunstâncias do período histórico em que viveu”, destaca a curadora Ana Avelar.
O público-alvo da exposição é composto por pessoas interessadas nos temas de arquitetura, design e arte, profissionais destas áreas de atuação, estudantes e pesquisadores, além de pessoas interessadas na cultura brasileira e em sua história. Para visitar, é preciso fazer um agendamento com antecedência entrando em contato com a Casa Zalszupin.
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