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Varejistas lutam contra dívidas em um de seus piores momentos

Revisado Natalia Concentino - 30 de Outubro 2023

Os varejistas brasileiros estão lutando para sobreviver até que os efeitos do ciclo de alívio monetário cheguem finalmente ao consumo das famílias. Isso porque as empresas, a exemplo de seus clientes, estão com altos índices de endividamento. Para piorar, a concorrência com empresas de e-commerce estrangeiro, como Amazon, AliExpress, Shopee e Shein tem colocado pressão extra ao mercado local.

 

Sob este cenário, o refinanciamento da dívida fica mais caro no país, enquanto no exterior o Caso Americanas ainda ecoa tendo como resultado a exigência de um prêmio de risco maior para as operações com o setor.

 

“Estamos falando talvez do pior momento para o varejo brasileiro desde que comecei a cobrir o setor, há uma década”, disse Thiago Macruz, analista de varejo e chefe de pesquisa de ações no Brasil do Itau BBA. “Tem sido um grande desafio para os varejistas, especialmente aqueles que atendem clientes de baixa renda.”

 

Os primeiros sinais de crise já surgem dentro do segmento. A Casas Bahia, anteriormente conhecida como Via e uma das redes de varejo mais populares do Brasil, teve que vender ações com grande desconto no mês passado para ajudar a pagar dívidas. A varejista de móveis Tok&Stok disse no final de junho que reestruturou cerca de R$ 350 milhões em dívidas com bancos e recebeu uma injeção de capital de R$ 100 milhões liderada pelo acionista controlador Carlyle, após não cumprir algumas obrigações.

 

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Outros pares, como Magazine Luiza e C&A, viram os prêmios de risco em seus títulos locais aumentarem e estão pagando spreads acima de 3 pontos percentuais. A Falabella, uma empresa chilena varejista e de serviços financeiros que faz negócios na América Latina, incluindo o Brasil, poderá ver sua classificação de crédito reduzida para lixo à medida que sua receita cair, disse a S&P Global Ratings em agosto. As ações da Americanas, Casas Bahia e Magazine Luiza valem todas abaixo de R$ 2 cada.

 

Enquanto os varejistas sofrem, o Banco Central do Brasil tenta aliviar parte da pressão sobre os mutuários. Aliviou as taxas em agosto e setembro e espera-se que continue cortando, com os economistas esperando que a taxa básica Selic caia para cerca de 9% até o final de 2024, dos atuais 12,75%. Mas o alívio ainda não chegou à ponta do comércio.

 

Os varejistas brasileiros aumentaram os seus níveis de endividamento nos anos anteriores à pandemia, aproveitando a queda das taxas de juro e a forte procura local pelos seus títulos. Um grupo de empresas de varejo brasileiras cobertas pela Fitch Ratings tinha cerca de R$ 34 bilhões em bonds com vencimento entre 2023 e 2024, e mais de R$ 51 bilhões com vencimento em 2025 e além.

 

Ao mesmo tempo, ofereceram mais crédito aos seus clientes, expandindo os seus braços de crédito internos para permitir que mesmo consumidores sem cartões de crédito financiassem compras. Muitas vezes, os comerciantes aprovavam eles mesmos as decisões de empréstimo e suportavam o peso de quaisquer perdas nos seus empréstimos. No curto prazo, condições de crédito mais flexíveis permitiram à empresa aumentar as suas receitas.

 

A longo prazo, essas vendas podem revelar-se ilusórias, à medida que os clientes atrasam as suas dívidas. A varejista de moda Lojas Renner disse que teve um prejuízo de R$ 396 milhões em seu braço de serviços financeiros no segundo trimestre, 41% maior que no ano anterior. Espera-se que ocorram mais incumprimentos por parte dos consumidores: de acordo com dados do BC, cerca de 28% do rendimento das famílias está agora relacionado com o serviço da dívida, perto de um máximo histórico. Para enfrentar um cenário tão desafiante, os varejistas estão reduzindo os empréstimos aos consumidores.

 

“As empresas perceberam que não é um bom negócio gerar crescimento de receitas à custa de um aumento nos empréstimos inadimplentes”, disse Alexandre Muller, gestor de fundos de crédito da JGP. “Caso contrário, eles estão colocando dinheiro em um bolso roubando do outro.”

 

Mesmo com estas pressões, alguns investidores veem oportunidades na dívida dos varejistas. Muller gosta das debêntures da Guararapes, conglomerado dono da varejista de moda Riachuelo. Embora muitos varejistas tenham relativamente poucos ativos físicos, a Riachuelo possui um shopping center no estado do Rio Grande do Norte, no nordeste do Brasil, que pode servir como garantia caso a empresa precise de mais financiamento.

 

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Enquanto as tradicionais lutas físicas, empresas de comércio eletrônico como Mercado Livre, Amazon e Shopee também enfrentam uma concorrência mais intensa. Um programa federal recentemente criado no Brasil permite que varejistas on-line comecem a vender produtos no valor de até US$ 50 com isenção total de impostos federais de importação.

 

Mas para os retalhistas cujas obrigações e ações estão a ser afetadas, o pior pode já ter passado, segundo alguns investidores. Além da queda das taxas, as regras recentemente aprovadas para um programa de renegociação de dívidas conhecido como Desenrola podem aliviar o fardo dos consumidores endividados.

 

“Nomes discricionários de consumo foram um tanto descartados. Ninguém gosta realmente deles”, disse Alessandro Arlant, sócio-gerente da Dahlia Capital, em evento em São Paulo na semana passada. “Mas é preciso separar o joio do trigo. Há muitas oportunidades se o cenário macro melhorar.”

 

Fonte: Bloomberg

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