Veja o que levou a Tok&Stok a virar alvo de despejo de lojas
O varejo brasileiro não vive o melhor de seus dias. Não mesmo. Depois dos escândalos fiscais, crises e até falência envolvendo empresas como Americanas, Marisa e Livraria Cultura, a mais recente personagem do inferno-astral do setor é a rede de móveis Tok&Stok. Com dívida estimada em R$ 600 milhões, a empresa acionou na semana passada o escritório Alvarez & Marsal, especializado em reestruturação de empresas e processos de Recuperação Judicial, para tentar colocar a empresa de volta aos trilhos. O grito de socorro veio depois que o fundo imobiliário Vinci Logística revelou inadimplência de R$ 21,3 milhões da lojista com aluguéis de um Centro de Logística em Extrema (MG). O contrato da loja do Shopping Higienópolis, em São Paulo, também está em processo na justiça por contestação do valor de R$ 2,4 milhões pela empresa.
Segundo o processo, a Tok&Stok ocupa 66,9 mil metros quadrados de área em propriedade do fundo. A Vinci alega que o contrato de locação possui uma apólice de seguro no valor equivalente a 12 aluguéis. No mercado imobiliário e no varejo, a falta de pagamento de aluguel foi vista como um sinal de problema de caixa na varejista, uma das maiores do segmento de móveis.
A Tok&Stok informou que não irá vai se pronunciar sobre o caso. A rede varejista, no entanto, teria demitido 200 funcionários em agosto de 2022. Os acionistas da Tok&Stok são fundos da gestora Carlyle Group e a família francesa Dubrule. A esperança de credores é que ambas possam juntas comandar uma injeção de capital.
O comunicado da Vinci, no dia 2 de fevereiro, resultou no pedido de renúncia de Daniel Sterenberg, até então diretor-presidente da Tok&Stok e presidente do conselho administrativo do Carlyle. A informação consta em lançamento feito na Junta Comercial de São Paulo poucos dias depois.
Trajetória
Fundada em 1978 para atender as classes A e B, a rede tem lojas em 22 estados brasileiros. Na capital paulista, são dez unidades, entre outlet, as grandes lojas das marginas Pinheiros e Tietê, e também as instaladas em shoppings. Aparentemente, o desafio financeiro não estava nos horizontes da empresa que chegou a se preparar para ser listada na bolsa ao pedir registro para um IPO (oferta inicial de ações na sigla em inglês), mas o plano não avançou.
As intempéries nas contas da rede de lojas podem ser o que analistas têm chamado de crise de bonança. Na pandemia, muitos segmentos cresceram impulsionados por ajustes necessários à transformação do ambiente doméstico para atender aulas e trabalho remotos. Reformas foram feitas, eletrônicos e móveis precisaram ser comprados e substituídos. O erro da rede teria sido não se preparar para o período posterior, que é o atual. Além da atividade econômica dormente, o momento coincide com juros mais altos, menos crédito e mais desconfiança.
A lista de empresas com dificuldades para pagar dívidas, buscando reestruturação financeira ou até proteção da Justiça, não para de crescer neste ano. Por trás da série de crises, uma conjunção de fatores agrava problemas operacionais e de gestão, mas o cenário não é visto como uma crise sistêmica, pois empresas do mesmo setor têm apresentado resultados diferentes. Enquanto as lojas Marisa renegociam dívidas, a concorrente Renner, por exemplo, vai muito bem, obrigada.
Apesar de não ser generalizada, uma vez que cada empresa no setor tem seus problemas específicos, o número de empresas enroladas com suas dívidas acendeu um sinal de alerta no mercado, já que crises se alastram principalmente entre os pequenos. A inadimplência de micro e pequenas fechou 2022 em 3,7%, contra 0,13% nas grandes, com tendência de alta. Cresce também a fatia desses negócios com potencial de inadimplência. Sinal vermelho aceso.
(Com informações IstoÉ Dinheiro)
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